Quem olha para uma vela de ignição pode não imaginar que aquele pequeno componente seja responsável por uma das tarefas mais críticas do motor: iniciar a combustão da mistura ar-combustível. Ainda que muitas vezes esquecida nas revisões caseiras, a vela de ignição atua como termômetro do estado interno do motor.
E uma dica valiosa para o motorista atento é: a cor da vela pode dizer muito sobre a eficiência da queima de combustível, o estado do sistema de ignição e até o tipo de combustível utilizado.
Por que verificar as velas regularmente é essencial
Apesar da robustez, as velas não duram para sempre. Especialistas recomendam que a inspeção ocorra, em média, a cada 10 mil a 15 mil quilômetros rodados, ainda que o intervalo de substituição varie conforme o modelo do veículo e o tipo de vela (resistiva, iridium, platina). Para motores que funcionam com GNV, por exemplo, esse intervalo pode ser ainda menor devido ao comportamento mais seco da queima.

Além da quilometragem, há outro fator-chave para verificar as velas: a coloração do eletrodo central e do isolador cerâmico. Com uma análise visual, é possível identificar anomalias antes que elas se traduzam em falhas mais graves, como perda de potência, consumo excessivo ou dificuldade na partida.
Vela com coloração branca: excesso de calor ou mistura pobre
Quando a vela apresenta uma coloração branca ou muito clara, com aspecto seco e desgastado, o alerta é imediato. Esse tom pode indicar que o motor está operando com mistura pobre, ou seja, com excesso de ar e pouco combustível — o que eleva a temperatura da câmara de combustão. O superaquecimento constante tende a desgastar os eletrodos mais rapidamente e comprometer a durabilidade do motor.

Além disso, velas brancas podem sugerir falhas no sistema de arrefecimento, injeção desregulada ou até o uso de combustível de baixa qualidade. Se essa característica surgir em mais de um cilindro, vale verificar os sensores de oxigênio, a sonda lambda e a bomba de combustível.
Coloração preta: excesso de combustível e falhas na queima
Já a vela com aspecto escurecido, carbonizada ou com fuligem preta nos eletrodos, aponta para o outro extremo: mistura rica, com muito combustível e pouco ar. Isso significa que o combustível está sendo injetado além do necessário e nem todo ele está sendo queimado de forma eficiente. É um sintoma clássico de problemas como filtro de ar entupido, bico injetor com vazamento, sensor de temperatura defeituoso ou ignição fraca.

O acúmulo de fuligem impede a geração de faísca ideal, dificultando a partida e prejudicando o rendimento do veículo. A médio prazo, também aumenta a emissão de gases poluentes e compromete o catalisador.
Marrom claro: sinal de funcionamento ideal
Se a vela estiver com um tom marrom claro ou bege, ligeiramente acobreado e sem resíduos excessivos, é um excelente sinal. Essa coloração é considerada padrão, indicando que o motor está operando na temperatura ideal e com a mistura ar-combustível equilibrada. Os eletrodos estarão com desgaste gradual e natural, sem presença de óleo ou fuligem.

Velas em bom estado também são importantes para manter a eficiência energética do motor. Uma faísca firme e constante reduz o consumo, garante aceleração mais suave e ajuda a manter o carro dentro dos padrões de emissão ambiental.
Além da cor, o que mais observar
A análise da cor é importante, mas não é o único fator a considerar. Uma vela úmida de óleo, por exemplo, pode indicar falhas de vedação nos anéis do pistão ou desgaste nos retentores de válvula. Já uma vela quebrada ou com eletrodo gasto de maneira irregular pode sinalizar que está sendo usada além do limite.
Vale lembrar que o uso de velas incompatíveis com o motor ou fora das especificações do fabricante também pode causar danos silenciosos. Por isso, sempre que for fazer a substituição, verifique o código correto da vela indicado no manual do carro.



