A Toyota interrompeu todas as suas atividades fabris no Brasil, e a decisão impacta diretamente a produção de alguns de seus veículos mais importantes. O motivo é a destruição quase total da fábrica de motores em Porto Feliz (SP), após um fenômeno climático extremo que provocou uma microexplosão atmosférica, danificando de forma irreversível a estrutura da unidade.
Com isso, a marca japonesa suspendeu de forma imediata a fabricação do Corolla, Corolla Cross, Yaris Cross e Yaris para exportação — modelos que utilizam os motores fabricados exclusivamente nessa planta. Ainda não há previsão oficial para retomada da produção, e a interrupção poderá se estender até 2026, segundo informações repassadas ao sindicato local.
O impacto direto nas linhas de montagem
As fábricas de Sorocaba e Indaiatuba, ambas no interior paulista, também foram afetadas. Sorocaba é responsável pela produção dos modelos Yaris Cross e Corolla Cross, enquanto Indaiatuba cuida da linha do Corolla sedã. Todas estão com a produção paralisada por tempo indeterminado, pois dependem dos motores que vinham de Porto Feliz — onde eram fabricados o 2.0 Dynamic Force (Corolla e Corolla Cross) e o 1.5 aspirado (Yaris).
Além do fornecimento de propulsores, Porto Feliz também se preparava para produzir uma versão evoluída do motor 1.5 flex que equiparia as versões de entrada do Yaris Cross. O local também teria papel importante na nacionalização do conjunto híbrido-flex, que deve equipar os modelos híbridos fabricados no Brasil nos próximos anos.
Toyota garante empregos e propõe alternativas
Apesar do cenário delicado, a Toyota descartou demissões neste primeiro momento. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, que representa os trabalhadores das três unidades, foi firmado um acordo para manter os empregos, enquanto soluções temporárias são negociadas. Em Sorocaba, por exemplo, os 4.500 colaboradores entrarão em férias coletivas, e em Porto Feliz será adotado o uso de banco de horas, seguido de layoff (suspensão temporária de contrato) para evitar cortes.
A proposta atual assegura que os trabalhadores com salários de até R$ 4.500 receberão seus vencimentos integralmente durante o período. Para quem recebe acima disso, a Toyota garantirá 95% do valor, além da manutenção de benefícios como vale-refeição e plano de saúde.
Segundo Leandro Soares, presidente do sindicato, “a relação construída com a Toyota ao longo dos anos se mostrou sólida nas crises anteriores, como na pandemia, e agora mais uma vez será essencial para proteger os trabalhadores e a cadeia produtiva como um todo”.
Exportações afetadas e prejuízo bilionário
A fábrica de Sorocaba tem papel estratégico na balança comercial automotiva brasileira. Apenas entre janeiro e agosto de 2025, foram exportados US$ 935,4 milhões em veículos produzidos por lá, o que representa cerca de 23% de tudo o que o setor automobilístico nacional vendeu ao exterior. Se somarmos Indaiatuba, o número ultrapassa US$ 1,1 bilhão em exportações, respondendo por quase um terço do total brasileiro no período.
O prejuízo indireto ainda é incalculável, já que a falta de peças interrompe a geração de receita e impacta também os fornecedores. A Toyota é a quinta maior fabricante de veículos no Brasil, atrás apenas de Stellantis, Volkswagen, GM e Hyundai, com mais de 200 mil unidades produzidas apenas em 2024.
Investimentos em risco e reestruturação futura
A Toyota havia anunciado recentemente um ambicioso plano de investimento de R$ 11 bilhões até 2030, sendo que R$ 5 bilhões já estavam comprometidos até 2026 para a ampliação de Sorocaba e novos projetos nacionais, como o desenvolvimento de carros híbridos e mais acessíveis.
O projeto mais emblemático é justamente o Yaris Cross, que começou a ser produzido este ano com plataforma TNGA e tecnologia híbrida-flex desenvolvida no Brasil. O modelo representa uma nova estratégia da marca para atender tanto o consumidor brasileiro quanto os mercados da América Latina, e a paralisação inesperada pode comprometer esse plano.
Apesar disso, a Toyota afirma que não irá recuar nos investimentos já anunciados, mas estuda uma reestruturação de cronogramas para minimizar os impactos na produção e no fornecimento de veículos.



