A GWM, uma das gigantes chinesas da indústria automotiva, resolveu subir o tom no universo das duas rodas com a criação da Souo, sua nova divisão de motocicletas. E a estreia não poderia ser mais ousada: a marca lançou a linha S2000CT, uma família de motos touring que traz como trunfo um motor boxer de oito cilindros e engenharia refinada, mirando diretamente nas consagradas Honda Gold Wing e Harley-Davidson Ultra Limited.
Longe de ser um projeto experimental, a S2000CT surge com uma missão clara: reposicionar a China no topo do mapa da engenharia motociclista mundial. E para isso, a Souo traz um pacote técnico que mescla tradição estética com soluções altamente sofisticadas.
O que está por trás do motor Flat-8 de 2.000 cc
No centro de toda a discussão está o motor: um inédito boxer de 8 cilindros opostos com exatos 1.999 cm³ de cilindrada, capaz de entregar 151 cavalos de potência a 6.500 rpm. Essa unidade de força não só impressiona pelo número de cilindros — algo raro até entre protótipos — como também supera a potência da Honda Gold Wing, que trabalha com um Flat-6 de cerca de 126 cv.

Aliado a esse motor, a Souo S2000CT adota um câmbio DCT (Dual Clutch Transmission) de 8 marchas, incluindo uma marcha à ré, item indispensável em motos pesadas. A escolha da DCT, além de reforçar o caráter premium do modelo, oferece trocas suaves, melhor aproveitamento do torque e eficiência energética para longos deslocamentos. Trata-se de uma motorização pensada não apenas para potência, mas para conforto e controle absoluto em qualquer velocidade.
Tecnologia de suspensão escondida sob um visual tradicional
Se o motor já surpreende, a suspensão dianteira é outro ponto que merece atenção. A Souo recorreu a um sistema baseado no conceito Hossack (ou Duolever) — estrutura de duplo braço oscilante que separa as funções de direção e amortecimento. Essa arquitetura é conhecida por oferecer mais estabilidade em frenagens, melhor absorção de impacto e menor transferência de vibração ao guidão.
O mais curioso é que toda essa engenharia foi “disfarçada” sob um layout visual que imita uma forquilha telescópica tradicional. A estratégia parece clara: atrair o consumidor clássico sem abrir mão da tecnologia moderna, algo que a concorrência ainda não ousou fazer nesse nível.
Quatro versões para atender todos os estilos de pilotagem

A linha Souo S2000CT não se limita a um único modelo. São quatro variações, cada uma adaptada a um perfil diferente de uso:
- LH2000 3: a mais simples, sem assento para garupa, voltada para uso solo.
- LH2000 4: versão para dois ocupantes, com pedaleiras e conforto adicional.
- LH2000 5: configuração “bagger”, com malas rígidas laterais para viagens longas.
- LH2000 6: topo de linha, com para-brisa integrado, perfil de turismo total.
Todas as versões compartilham a base estrutural robusta, com peso entre 404 kg e 427 kg e distância entre eixos de 1.810 mm, o que assegura estabilidade em linha reta e conforto em longos trajetos. O porte é semelhante aos rivais tradicionais, o que reforça o posicionamento da linha entre as touring de luxo.
Design clássico com traços futuristas
A Souo não tenta reinventar o visual das motos cruiser, mas o interpreta com proporções imponentes, linhas bem resolvidas e acabamentos refinados. O painel é digital e traz uma experiência de condução que combina informação, sofisticação e conectividade, sinalizando a preocupação da marca com os detalhes.
Apesar de toda a inovação embutida, o design é deliberadamente familiar — uma decisão estratégica que visa reduzir a resistência inicial dos consumidores ocidentais.
Desafiando o preconceito: da “moto chinesa” à referência global
Por décadas, motos chinesas foram encaradas como alternativas de baixo custo, com foco em mercado interno ou emergente. A Souo S2000CT quebra esse paradigma com força. A escolha por um motor Flat-8, somada a um câmbio DCT de 8 marchas, sistema de suspensão do tipo Hossack, painel refinado e uma família completa de versões, indica claramente que a China não quer mais ser coadjuvante no cenário global — quer competir em pé de igualdade com os gigantes do setor.
Neste contexto, a S2000CT deixa de ser apenas uma motocicleta e passa a ser um símbolo da ambição tecnológica da GWM. Resta saber se o mercado — especialmente o ocidental — está pronto para aceitar que a próxima referência em touring pode não vir do Japão, Europa ou EUA, mas sim de Xangai.



