O Volkswagen T-Cross, conhecido por sua popularidade no mercado brasileiro, foi recentemente colocado sob os holofotes por um motivo menos positivo. Em sua nova rodada de testes promovida pelo Euro NCAP, principal órgão europeu de avaliação de segurança veicular, o SUV compacto obteve apenas três estrelas, resultado inferior ao das cinco estrelas conquistadas em 2019. A queda de desempenho não está ligada à estrutura física do modelo, mas sim a mudanças no protocolo da agência e às limitações dos sistemas de assistência à condução.
A avaliação acontece em meio a uma onda de atualizações nos critérios do Euro NCAP, que se tornaram mais rigorosos a partir de 2024. Assim, modelos que antes atingiam a pontuação máxima passaram a ser desafiados por cenários mais exigentes, tanto em simulações de colisão quanto na atuação de tecnologias preventivas. E, nesse novo cenário, o T-Cross acabou ficando para trás.
Desempenho mediano e desafios na segurança ativa
Entre os principais pontos observados, o T-Cross apresentou uma proteção de 74% para adultos e 81% para crianças em colisões. Embora esses números ainda estejam dentro de uma faixa aceitável, não representam destaque frente a outros concorrentes do segmento. Mas foi nos quesitos de proteção a usuários vulneráveis das vias — como pedestres e ciclistas — que o modelo mais decepcionou, alcançando apenas 60% de eficácia.
Outro ponto crítico foi o resultado dos sistemas de assistência à condução (ADAS), que atingiram apenas 57% de aproveitamento. Isso inclui tecnologias que vêm se tornando padrão na Europa, como frenagem autônoma de emergência, alerta de fadiga e sistemas anticolisão lateral com ciclistas.
Segundo os dados divulgados pelo próprio Euro NCAP, o AEB do T-Cross teve desempenho classificado como “marginal”. Embora tenha conseguido evitar impactos em alguns cenários, falhou em outras simulações importantes. A ausência de um alerta que impede a abertura da porta ao detectar ciclistas se aproximando também pesou negativamente na nota geral. E, diferentemente de rivais que já oferecem detecção de sonolência ou perda de atenção do motorista, o SUV da Volkswagen não dispõe desse recurso em sua configuração atual.
Mudança no protocolo: um novo padrão de exigência
É importante contextualizar que a avaliação mais baixa não necessariamente significa que o T-Cross ficou menos seguro do que era. A nota inferior reflete uma mudança de paradigma na forma como os carros são testados e não exatamente uma piora no carro em si. Desde 2020, o Euro NCAP passou a dar mais peso à segurança ativa, isto é, à capacidade do veículo de evitar acidentes, e não apenas de proteger os ocupantes quando eles ocorrem.
Ou seja, os equipamentos tecnológicos de prevenção agora têm impacto direto na nota final, e carros que não acompanham essa evolução naturalmente são penalizados. Na comparação, modelos de baixo custo de marcas chinesas, como MG5 e Dongfeng Box, também ficaram com três estrelas — o que coloca o T-Cross em um patamar menos desejado para quem observa rankings internacionais.
Diferenças entre Europa e América Latina
Outro fator relevante é o descompasso entre os testes europeus e os aplicados na América Latina. O mesmo T-Cross, fabricado no Brasil e testado pelo Latin NCAP em 2019, recebeu nota máxima de cinco estrelas, mostrando que os critérios adotados no continente sul-americano ainda são mais brandos.
Além disso, os modelos comercializados no Brasil e na Europa podem apresentar variações de configuração, o que influencia diretamente nos resultados. Em muitos mercados latinos, por exemplo, a lista de itens de série ainda é menos exigente em relação a tecnologias como leitor de faixa, frenagem adaptativa ou detecção de ponto cego — equipamentos que pesam na pontuação do Euro NCAP.
O T-Cross ainda vale a confiança?
Apesar do revés na Europa, o T-Cross continua sendo uma referência de mercado no Brasil, onde lidera entre os SUVs compactos da Volkswagen. A questão, no entanto, passa a ser a pressão para atualizações tecnológicas, principalmente em um cenário onde marcas concorrentes já começam a equipar seus modelos com sistemas de condução semi-autônoma.
A expectativa agora recai sobre as próximas versões do T-Cross, que devem chegar com um pacote de tecnologias mais robusto, alinhando o modelo às novas exigências globais. Afinal, para manter a relevância em um segmento cada vez mais competitivo, ser apenas estruturalmente seguro já não é mais suficiente.



