Quando a RAM 1500 REV foi revelada ao mundo em 2023, a promessa era ambiciosa: uma picape elétrica com mais de 800 km de autonomia, potência combinada de 654 cv e torque elevado de 84 kgfm, alimentados por baterias robustas de até 229 kWh. O modelo marcaria uma nova era para a marca norte-americana, reforçando a corrida da Stellantis rumo à eletrificação. Porém, esse futuro ficou pelo caminho.
A RAM confirmou que o modelo não chegará ao mercado, mesmo depois de meses de expectativa e de um projeto que previa substituir integralmente a versão a combustão da 1500 até o fim da década.
Aposta frustrada no segmento das elétricas grandes
A decisão acompanha o desempenho instável de outras fabricantes no segmento. A Ford reduziu a produção da F-150 Lightning, enquanto a Chevrolet limita a Silverado EV a frotas profissionais. A Tesla Cybertruck, que deveria ser disruptiva, teve cortes na produção e cancelou a versão de entrada. Neste cenário, a RAM seguiu a mesma linha de recuo, mesmo após ter apresentado a REV como carro-conceito no Salão de Las Vegas.
Mesmo com especificações técnicas impressionantes e promessas de recarga rápida, o custo de desenvolvimento, a baixa adesão do público ao segmento e o ritmo das infraestruturas de recarga ainda aquém do ideal forçaram uma reavaliação. O público-alvo ainda prioriza desempenho, autonomia realista e custo-benefício — fatores onde os V8 e híbridos continuam soberanos.
REV fora, Ramcharger dentro: uma nova rota híbrida
Enquanto a REV foi descontinuada antes mesmo do nascimento, a RAM mantém outro projeto que agora ganha protagonismo: a RAM 1500 Ramcharger. Trata-se de uma solução híbrida com extensor de autonomia. Ela combina motores elétricos a um gerador movido a gasolina, criando uma alternativa mais viável para longas distâncias — sem depender de recargas frequentes.

O conjunto oferece 656 cv de potência e torque de 82 kgfm, com uma autonomia total estimada em até 1.100 km, unindo as vantagens do sistema elétrico ao alcance de modelos a combustão. O modelo utiliza a nova plataforma STLA Frame, e a RAM promete manter o alto padrão de capacidade de carga e reboque.
Esse posicionamento se alinha melhor ao perfil de uso da picape nos EUA: longos trajetos, exigência de força para reboques e pouca infraestrutura de recarga em áreas rurais. A Ramcharger pode se tornar um divisor de águas no segmento ao entregar a experiência elétrica com liberdade semelhante à dos V8 tradicionais.
O retorno estratégico dos motores V8
Além disso, a linha RAM 1500 voltou a oferecer o motor V8 HEMI, após o insucesso inicial da substituição pelo 3.0 Hurricane, que resultou em uma queda de 20% nas vendas da picape. A aposta em downsizing não agradou parte dos consumidores, especialmente os mais tradicionais. A reversão foi vista como um movimento necessário para conter o avanço de rivais e resgatar a identidade da marca.
A volta do V8, portanto, marca não apenas um retorno à origem, mas também o abandono, ao menos temporário, de um plano ousado de eletrificação total.



