A paixão por carros clássicos voltou a ganhar as ruas com mais força no Paraná. A famosa placa preta, que por anos simbolizou o status de relíquia automotiva, está novamente em destaque e puxando um movimento expressivo no setor. Segundo dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), a frota de veículos de coleção cresceu 29% em apenas um ano no estado, saltando de 7.512 para 9.702 unidades entre agosto de 2024 e agosto de 2025. Só em Curitiba, esse avanço foi de 15,6%.
O crescimento, porém, não acontece por acaso. A combinação entre novas regras de certificação, maior acesso à placa tradicional e o amadurecimento de modelos dos anos 1990 como elegíveis para coleção impulsionou um nicho que mistura nostalgia, investimento e estilo de vida.
A placa preta voltou com tudo — e com força total
Durante um período de transição entre os padrões de placas, especialmente com a adoção do modelo do Mercosul, a tradicional identificação de fundo preto e letras brancas foi substituída por versões com letras cinza, menos atrativas para os colecionadores. A reação negativa do público foi quase imediata, levando o Contran a aprovar, no fim de 2021, uma regulamentação que permitiu a volta da clássica placa preta para veículos de coleção certificados a partir de 2022.
Esse retorno não foi apenas simbólico. Ele reacendeu o desejo de muitos entusiastas de obter a certificação de seus veículos, especialmente porque a estética e a originalidade sempre foram aspectos valorizados por quem coleciona. Desde então, o setor passou por uma verdadeira reanimação.
Por que os carros antigos estão em alta?
A cada virada de calendário, novos modelos passam a se enquadrar nas regras da placa preta. De acordo com a resolução 957/2022 do Contran, veículos com 30 anos ou mais podem ser reconhecidos como de coleção, desde que atendam a critérios específicos. Em 2025, por exemplo, os modelos fabricados em 1995 já podem entrar na lista.
Além da idade, é necessário que o carro apresente mínimo de 80% de originalidade, esteja em condições de rodagem e possua valor histórico relevante. Pequenas alterações, como troca de bancos ou motor não original, já podem inviabilizar a certificação. E esse cuidado com os detalhes cria um filtro natural, valorizando ainda mais os modelos que se mantêm fiéis à configuração de fábrica.
Como funciona a certificação?
Todo o processo começa com uma avaliação — geralmente feita por clubes especializados, como o Cadillac Clube do Brasil, que atua também como órgão certificador. O dono do carro envia fotos detalhadas e, se o modelo demonstrar potencial para a certificação, é agendada uma vistoria presencial. Passando nos critérios, o veículo recebe o Certificado de Veículo de Coleção (CVCOL), documento essencial para solicitar a troca da categoria no Detran.
O custo médio gira em torno de R$ 1.700, incluindo certificação e taxas. Embora não seja um valor baixo, o investimento se justifica não apenas pela valorização de mercado, mas também por benefícios legais. Por exemplo, veículos de coleção não precisam seguir exigências de segurança modernas — como cinto de três pontos — desde que essas obrigações não existissem na época de fabricação.
Mais trocas, menos vendas: um mercado com regras próprias
Com mais de duas décadas no setor, a loja Clássicos & Antigos, localizada no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba, se tornou referência nacional. Seu fundador, Durair do Rosário Filho, mais conhecido como Dura, viu o negócio crescer espontaneamente. Ele conta que começou a vender suas próprias relíquias como um hobby, mas logo percebeu o potencial comercial do segmento.
Hoje, o perfil dos negócios é bem diferente do convencional. Segundo ele, “o mercado de relíquias é movido mais por trocas do que por vendas à vista”. Há pouco tempo, por exemplo, ele trocou sete veículos por apenas três, todos clássicos. A prioridade é sempre manter o foco em modelos antigos com potencial de valorização e identidade histórica.
Santana, Mustang, Studebaker e mais: a nova safra de clássicos
A loja Clássicos & Antigos abriga hoje cerca de 50 modelos à venda ou disponíveis para troca. Entre eles, verdadeiras raridades, como um Studebaker Champion 1939 100% original, um Chevrolet 1933, além de várias unidades de Cadillac e Mustang. Essa diversidade ilustra a abrangência do mercado atual, que inclui desde ícones norte-americanos até modelos nacionais que marcaram época.
Com o tempo, modelos como o Santana, Monza, Escort XR3, Gol GTI, Kadett GSi e até veículos importados da década de 1990 passaram a despertar o interesse dos novos colecionadores. Essa geração, que cresceu vendo esses carros nas ruas, agora tem poder de compra e busca resgatar suas memórias ao volante.



