Enquanto o Brasil já contabiliza mais de 1.100 ônibus elétricos em circulação, Curitiba se movimenta para dar um salto histórico no transporte coletivo. Com apenas sete veículos atualmente em operação, a capital paranaense não ocupa hoje o topo do ranking. Mas tudo está prestes a mudar com um investimento bilionário que promete transformar a cidade em um dos maiores polos de mobilidade elétrica pesada do país.
A meta é ousada: descarbonizar 33% da frota de transporte público até 2030 e atingir 100% até 2050. E o plano já está em marcha, com projetos aprovados, contratos assinados e financiamentos encaminhados — tudo para colocar centenas de novos ônibus movidos a eletricidade nas ruas da capital.
Curitiba já iniciou a jornada elétrica nas ruas
Atualmente, duas linhas da capital paranaense operam com veículos totalmente elétricos. São seis unidades rodando no eixo Interbairros I — nos sentidos horário e anti-horário — e um veículo adicional na linha Água Verde. Os modelos em operação são das fabricantes BYD e Volvo, marcas que já estão consolidadas no segmento de ônibus urbanos de emissão zero.
Além da propulsão limpa, os ônibus se destacam por oferecerem um padrão superior de conforto e acessibilidade. Ar-condicionado, entradas USB e piso baixo fazem parte da experiência a bordo. Para efeito de comparação ambiental, cada veículo evita a emissão de mais de 118 toneladas de CO₂ por ano, o que equivale ao trabalho de cerca de 847 árvores.
A virada começa com 54 articulados para a linha Inter 2
A grande mudança, no entanto, deve começar em breve com a ampliação da frota elétrica na linha Inter 2, uma das mais movimentadas da cidade. Um financiamento já aprovado junto ao BNDES, no valor de R$ 380 milhões, garantirá a aquisição de 54 ônibus articulados 100% elétricos, além da implantação de dois eletropostos públicos para recarga.
Com isso, Curitiba salta diretamente de 7 para 61 veículos elétricos, ultrapassando cidades como Belém e Goiânia. A capital paranaense passa a figurar, assim, como segunda maior frota de ônibus elétricos do Brasil, atrás apenas de São Paulo, que lidera com 841 unidades.
Meta de 450 ônibus elétricos até 2030
O plano completo envolve um total de R$ 1 bilhão em investimentos. Além do contrato com o BNDES, a prefeitura também firmou acordo com o banco alemão KfW, que destinará até R$ 633 milhões para ampliar ainda mais a frota nas linhas BRT Leste-Oeste e Interbairros II, que atendem juntas mais de 350 mil passageiros por dia.
Com isso, Curitiba deve colocar nas ruas cerca de 450 novos ônibus elétricos nos próximos cinco anos, chegando a quase um terço da frota atual, estimada em 1.543 veículos entre operantes e reserva.
Estrutura de carregamento é o próximo desafio
Apesar do avanço promissor, o sucesso da eletrificação em larga escala depende de um fator essencial: a infraestrutura de recarga. Ônibus elétricos exigem estações com alta capacidade energética, capazes de atender dezenas de veículos por dia, o que pressiona diretamente a rede elétrica local.
Soluções como sistemas de armazenamento de energia em baterias auxiliares já estão no radar, permitindo o abastecimento inteligente fora dos horários de pico e reduzindo o impacto sobre a distribuição. A instalação estratégica de eletropostos, próximos às principais linhas e terminais, também será determinante para garantir a eficiência do sistema.
Muito além do combustível: os benefícios da eletrificação pesada
Mais do que trocar diesel por eletricidade, a mudança representa uma revolução no transporte urbano. Os ônibus elétricos oferecem custo operacional mais baixo, menos manutenção, menor poluição sonora e eliminam a necessidade de manter estoques de combustível fóssil. Além disso, colaboram com metas ambientais e reforçam a imagem institucional das cidades envolvidas.
Em um cenário global onde sustentabilidade e tecnologia caminham juntas, Curitiba pode se tornar referência nacional — e até mesmo latino-americana — no que diz respeito à mobilidade elétrica urbana. O investimento bilionário não é apenas uma aposta no futuro, mas uma resposta concreta às necessidades do presente.



