O trânsito pesado que você enfrenta todos os dias em Curitiba não é obra do acaso. Na verdade, ele reflete uma realidade surpreendente — e, para muitos, preocupante. Com 1,6 milhão de veículos registrados para uma população de 1,8 milhão de habitantes, a capital paranaense está muito próxima de alcançar um marco que escancara os desafios da mobilidade urbana: ter praticamente um carro para cada morador.
Esse levantamento, apresentado na Câmara Municipal de Curitiba pelo supervisor do Grupo de Fiscalização de Trânsito da Guarda Municipal, revela um cenário que explica muito dos congestionamentos que dominam as principais vias da cidade — especialmente em horários de pico.
Uma cidade sobre rodas
O dado mais impactante não é apenas a quantidade de veículos registrados, mas também o fluxo real de carros que circulam diariamente. Isso porque, além dos veículos cadastrados no município, Curitiba recebe um volume expressivo de automóveis vindos da região metropolitana e de outras cidades do Paraná.
Aliás, esse movimento faz com que, nos horários mais críticos, o número de veículos em circulação na capital chegue a 5 milhões — três vezes mais do que a frota local registrada. É como se, de repente, toda a população da Grande Curitiba, somada a milhares de visitantes, decidisse trafegar ao mesmo tempo pelas mesmas ruas.
O resultado? Congestionamentos constantes, tempo de deslocamento elevado e aumento expressivo no número de acidentes, segundo apontam os dados mais recentes da própria Guarda Municipal.
Frota cresce, e os riscos também
Entre os veículos registrados, a maior fatia corresponde aos automóveis de passeio, que somam 1,013 milhão de unidades. Em seguida, aparecem as motocicletas (209 mil), as caminhonetes (122 mil), as camionetas (99 mil) e os caminhões (40 mil).

Esse aumento na frota tem um reflexo direto na segurança viária. Na Linha Verde, uma das principais vias expressas de Curitiba, o crescimento no número de acidentes é visível. Só nos quatro primeiros meses de 2025, foram registrados 153 acidentes com vítimas ou grandes danos materiais, todos formalizados com Boletins de Acidente de Trânsito (BAT).
O dado representa uma alta de 21% em relação ao mesmo período de 2024, que contabilizou 126 ocorrências, e 23% a mais do que em 2023, quando houve 117 registros. Isso sem contar os inúmeros acidentes de menor gravidade que não entram nas estatísticas oficiais.
Desafio para o futuro: mobilidade no limite
Além dos prejuízos financeiros, que impactam diretamente a economia local e os custos de manutenção viária, o aumento na frota traz sérias consequências para a qualidade de vida da população. Mais horas no trânsito significam menos tempo para atividades pessoais, aumento do estresse e da emissão de poluentes — mesmo em uma cidade historicamente referência em transporte público.
Curitiba, que por décadas foi modelo de planejamento urbano no Brasil, agora se vê diante de um problema crescente: como equilibrar uma frota gigantesca, que não para de crescer, com uma infraestrutura urbana que claramente já dá sinais de saturação?
O desafio também se reflete na gestão pública. Desde 2023, por meio de um convênio inédito entre o município e a União, o atendimento dos 22 km da Linha Verde passou da responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para a Guarda Municipal de Curitiba (GM). Isso mostra como o trânsito deixou de ser uma preocupação apenas rodoviária para se tornar um problema urbano e estrutural.



