Com investimento estratégico e ambições claras de liderança no segmento de eletrificados, a BYD prepara um novo capítulo para sua atuação no Brasil. A marca chinesa confirmou que vai montar oito modelos de carros até o fim de 2026 na recém-instalada fábrica de Camaçari (BA). A planta será inaugurada nas próximas semanas, iniciando a operação no sistema SKD, um regime de montagem em que os veículos chegam semi-desmontados ao país para serem finalizados localmente.
O complexo baiano, que ocupou a antiga unidade da Ford no Polo Industrial de Camaçari, representa a primeira grande aposta da BYD em solo brasileiro. A planta será o centro de uma nova fase para a marca no continente sul-americano, com foco em ganho de escala, diversificação da linha de produtos e maior competitividade frente aos rivais.
Primeiros modelos confirmados e plano de expansão
Segundo a marca, os três primeiros veículos a serem montados na Bahia já estão definidos: o elétrico Dolphin Mini e os híbridos Song Pro e King, modelos que têm ganhado força no mercado nacional por oferecerem tecnologias avançadas com preço competitivo.

A partir de 2025, o Dolphin, modelo acima do Mini, também passará a ser finalizado em Camaçari, ampliando a gama de compactos eletrificados de produção local. Com isso, quatro modelos já estão oficialmente previstos. As apostas mais prováveis para completar a lista incluem o Song Plus, SUV híbrido bastante vendido no país, além dos elétricos Yuan Plus e Yuan Pro. A oitava vaga, ainda mantida sob sigilo, tende a ser ocupada por uma picape intermediária híbrida que será apresentada em 2025.
Por dentro do processo SKD
Embora a produção nacional esteja sendo anunciada com destaque, a primeira fase da operação se dará em formato SKD (semi knocked-down). Isso significa que os carros chegarão ao Brasil com suas peças principais já montadas — como estrutura, powertrain e componentes internos — restando ao polo de Camaçari apenas a etapa de montagem final.

Esse processo inicial não gera grandes reduções de custo tributário, já que os kits de montagem continuam sendo taxados como veículos completos, com alíquotas de 25% para elétricos e 28% para híbridos plug-in. A BYD, no entanto, negocia com o governo federal um novo regime tributário que possa favorecer o modelo de produção local.
Foco em nacionalização e fornecedores brasileiros
Apesar da operação começar com baixo índice de nacionalização, a fabricante pretende aumentar gradualmente o conteúdo brasileiro de seus modelos. O primeiro passo foi dado com a Continental, que fornecerá pneus fabricados no Brasil para os veículos montados em Camaçari. Além disso, está em andamento o processo de homologação de mais de 160 fornecedores locais, o que poderá representar uma virada no perfil produtivo da planta.

Segundo a marca, a nacionalização é um dos pilares para a operação tornar-se mais robusta e menos dependente de importações, o que também deve refletir em preços mais competitivos no médio prazo.
Obras retomadas após polêmicas e embargos
A trajetória da fábrica baiana não foi livre de controvérsias. Recentemente, a construção foi paralisada após denúncias de condições de trabalho análogas à escravidão, envolvendo operários chineses contratados por uma empreiteira terceirizada. As imagens divulgadas provocaram a intervenção do Ministério Público do Trabalho, que determinou o embargo das obras.
Após o rompimento do contrato com a construtora envolvida, a BYD contratou uma nova empreiteira brasileira para dar continuidade às obras. O Ministério do Trabalho e Emprego confirmou a liberação oficial das obras em 8 de julho, e os trabalhos já foram retomados para completar as demais estruturas do complexo.