Quem acompanhava o ‘Lata Velha’ nos anos 2000 lembra bem dos carros exageradamente personalizados, com cores vibrantes, acessórios inusitados e projetos de gosto duvidoso que dividiam opiniões.
Mas agora, o quadro automotivo comandado por Luciano Huck desde 2004 renasce com outro espírito. A nova proposta foca na restauração de clássicos com respeito à originalidade e aos traços históricos dos modelos, uma abordagem que dialoga diretamente com o atual momento do mercado automotivo, onde o resgate da autenticidade é cada vez mais valorizado.
Da customização para a restauração de verdade
A repaginada na proposta do programa reflete uma mudança importante no olhar do público: mais do que tunar, agora o objetivo é restaurar. Ou seja, preservar o design de época, restaurar peças originais sempre que possível e, quando for o caso, aplicar melhorias que não interfiram na identidade do carro.
Se antes o quadro entregava carros com maçanetas de colher, adesivos de tijolo e caixas de som que mais pareciam vitrines de loja, hoje a pegada é diferente. A restauração ganhou protagonismo e o apelo emocional, que sempre esteve presente, ficou ainda mais evidente. E isso ficou claro já na reestreia da nova temporada, com a escolha de um verdadeiro clássico nacional: o Chevrolet Monza Hatch 1983.
Monza 1983: um símbolo da nova fase
O carro escolhido para abrir essa nova fase pertence ao fotógrafo Gabriel Castro, morador de Indaiatuba (SP). O Monza estava na família desde a década de 1980 e, apesar de deteriorado, mantinha seu valor afetivo intacto. Com a lataria comprometida, pintura desbotada, falhas no motor e suspensão comprometida, o veículo já quase não rodava mais. No entanto, sob a carcaça cansada, havia um clássico esperando para renascer.

E foi isso que a equipe do ‘Lata Velha’ proporcionou: um retorno à vida, com respeito absoluto ao desenho original do modelo. A restauração ficou a cargo da oficina especializada Rusty Barn, em São Paulo, sob comando dos especialistas Gustavo Tostes e Bigo Berg, e foi concluída em tempo recorde — apenas 30 dias.
Carroceria clássica, acabamento primoroso
O visual externo foi mantido fiel ao modelo original, incluindo a pintura em tom bege clássico, que remete diretamente à versão de fábrica. O trabalho na carroceria foi criterioso e, mesmo com um curto tempo de cura, o brilho e o acabamento final impressionaram. Para adicionar um toque sutil de esportividade, a equipe escolheu rodas Weld Racing, que equilibram perfeitamente a estética retrô com uma pitada contemporânea.

Internamente, o carro também passou por uma reforma completa, incluindo bancos com novo revestimento, agora estampados com o logotipo do quadro nos encostos, painéis de porta refeitos e novos detalhes de acabamento. O volante Lotse, adicionado ao conjunto, reforça a pegada esportiva, sem descaracterizar o projeto original.
Mecânica retrabalhada e motor 1.6 turbo a etanol
A parte mecânica foi talvez o ponto onde houve maior liberdade criativa — a pedido do próprio dono. Embora o objetivo geral da restauração tenha sido a preservação da originalidade visual, o motor 1.6 a etanol foi totalmente reconstruído e, agora, ganhou um kit turbo que eleva sua capacidade além dos 87 cv de potência declarados.

O cabeçote do motor 1.8, que também equipava o Monza nos anos 1980, foi utilizado para melhorar o fluxo interno e dar mais fôlego ao conjunto. A preparação incluiu ainda ajustes finos de calibração e melhorias na admissão e escapamento. Mesmo sem buscar números altos, o novo motor entrega um comportamento muito mais ágil e eficiente.
Além disso, a suspensão foi rebaixada discretamente, melhorando o centro de gravidade e, consequentemente, o comportamento dinâmico da condução. O resultado é um carro com aparência clássica, mas com dirigibilidade atualizada para os padrões de hoje.