A BYD, uma das maiores fabricantes de carros elétricos do mundo, decidiu traçar uma linha clara entre opinião e ataque. Em uma medida sem precedentes, a montadora chinesa acionou judicialmente 37 influenciadores digitais após acusações de difamação que, segundo a empresa, colocam em risco sua reputação no mercado global.
O motivo? Uma série de vídeos, postagens e artigos que circularam em plataformas chinesas, contendo desde boatos sobre uma suposta falência da empresa até alegações de que a montadora financiaria ataques virtuais contra marcas concorrentes. A resposta da BYD foi direta: criar uma divisão interna especializada, chamada News Anti-Fraud, dedicada a identificar e combater conteúdos considerados nocivos.
Essa unidade não apenas rastreia publicações difamatórias como também atua de forma estratégica ao incentivar o público a participar. Para isso, oferece recompensas de até 5 milhões de yuans, o equivalente a cerca de R$ 3,6 milhões, para quem denunciar conteúdos falsos que forem comprovadamente prejudiciais à imagem da marca.
Um novo capítulo na relação entre marcas e internet
Enquanto muitas empresas adotam uma abordagem diplomática diante de críticas online, a postura da BYD marca um ponto de inflexão. Ao judicializar conteúdos de opinião, mesmo em ambientes digitais onde predominam influenciadores independentes, a montadora estabelece um padrão que pode ter reflexos duradouros — especialmente em mercados ocidentais, como o Brasil.
Aliás, o que se viu na China pode servir de alerta. Um dos criadores processados foi condenado a pagar uma multa de 100 mil yuans (R$ 77 mil) e obrigado a publicar um pedido de desculpas público após sugerir um esquema de manipulação de mídia por parte da montadora. Em outro caso, o autor de um vídeo afirmando que a empresa passava por uma grave crise financeira foi punido sem direito à retratação informal.
Liberdade de expressão ou dano à reputação?
Embora o episódio esteja acontecendo no território chinês, ele levanta discussões relevantes também para os influenciadores automotivos do Brasil, onde a BYD tem expandido sua presença de forma agressiva com lançamentos como Dolphin, Song Plus e o aguardado King.
Ao mesmo tempo que marcas precisam proteger sua reputação contra fake news e ataques orquestrados, há uma linha tênue entre isso e a repressão à crítica legítima. No setor automotivo, onde as opiniões técnicas e experiências reais de consumidores pesam na hora da compra, a liberdade de expressão dos criadores de conteúdo desempenha um papel vital — seja elogiando ou apontando falhas.
A diferença fundamental está no uso de provas e responsabilidade. Opinar com base em testes reais ou experiências de uso não é o mesmo que espalhar desinformação com o objetivo de viralizar. E é justamente essa a narrativa adotada pela BYD para justificar sua postura dura.