A Toyota está traçando planos ousados para o futuro da mobilidade global — e eles não passam, necessariamente, pela eletrificação pura. Em vez disso, a marca japonesa reforça sua convicção de que o hidrogênio pode assumir o papel que hoje pertence ao diesel, especialmente em mercados onde o combustível fóssil ainda é predominante. Um exemplo emblemático é a Austrália, onde a cultura do diesel está profundamente enraizada, mas onde a montadora acredita que o cenário pode mudar.
Sean Hanley, vice-presidente da Toyota na Austrália, surpreendeu o setor ao declarar que o hidrogênio deve ultrapassar o diesel como principal fonte de energia para veículos de carga e longa distância nas próximas décadas. A afirmação, feita em entrevista ao portal CarExpert, reflete uma visão de longo prazo baseada tanto na abundância de hidrogênio disponível no país, quanto nas políticas públicas que visam transformá-lo em uma potência de energia limpa até 2030.
Hidrogênio x Diesel: a disputa pela energia do transporte pesado
Para Hanley, o diesel continuará relevante ao longo da próxima década, mas sua hegemonia está com os dias contados. A aposta no hidrogênio vai além de uma tendência: trata-se de uma estratégia industrial de médio e longo prazo, alinhada com metas ambientais e avanços tecnológicos.
Segundo o executivo, mesmo um veículo a gasolina já pode, em certos casos, oferecer desempenho semelhante ao de um motor diesel moderno. Mas é no hidrogênio que a Toyota enxerga o verdadeiro potencial de substituição, principalmente em caminhões, ônibus e utilitários de grande porte, onde a eletrificação pura ainda enfrenta limitações logísticas — como tempo de recarga, peso das baterias e autonomia reduzida.
A aposta no Toyota Mirai e o desafio da infraestrutura
A maior vitrine da Toyota no campo do hidrogênio é o Toyota Mirai, um sedã que roda com célula de combustível e emite apenas vapor d’água pelo escapamento. Com visual futurista e desempenho silencioso, ele já está disponível em mercados como Japão, Estados Unidos e parte da Europa. No Brasil, chegou de forma limitada apenas para testes.
O problema, porém, é logístico: são poucos os postos de abastecimento de hidrogênio no mundo. Na Austrália, existem apenas 13 estações. Nos Estados Unidos, são cerca de 50. Isso limita severamente a expansão de veículos como o Mirai — ou de qualquer linha movida a célula de combustível.
Ainda assim, Hanley é cauteloso: “Não será uma revolução entre 2024 e 2030, mas sim uma transição gradual entre 2030 e 2035”, declarou. A Toyota não trata o hidrogênio como uma solução de curto prazo, mas como uma alternativa estratégica para substituir o diesel em aplicações onde os elétricos a bateria não entregam o necessário.
Por que o hidrogênio faz sentido na Austrália
A geografia e os planos do governo australiano criam um cenário favorável para essa virada. Com vastas áreas desabitadas e forte investimento em energias renováveis, o país tem potencial para produzir hidrogênio verde em larga escala, utilizando fontes como energia solar e eólica para realizar a eletrólise da água.
O plano do governo australiano prevê tornar o país um dos maiores exportadores de hidrogênio do mundo até 2030, o que viabiliza não só o uso interno como o fornecimento para nações que não possuem o mesmo potencial produtivo. A Toyota, percebendo essa janela, fortalece seu posicionamento como pioneira e visionária nesse segmento.
Diesel ainda tem força, mas o futuro já está em marcha
Apesar do otimismo da Toyota, o diesel ainda é dominante, especialmente em mercados como Austrália, Brasil, Estados Unidos e parte da Europa. A autonomia elevada, o torque em baixas rotações e a rede de abastecimento bem estabelecida fazem com que ele continue sendo a escolha lógica para veículos comerciais e de trabalho pesado.
Entretanto, com a pressão por descarbonização, o aumento das restrições regulatórias e a evolução das tecnologias de célula de hidrogênio, o cenário pode mudar nos próximos anos.
A aposta da Toyota é clara: o futuro da mobilidade limpa não será 100% elétrico. Ele será múltiplo, e o hidrogênio terá papel fundamental — não como concorrente direto do elétrico, mas como alternativa viável ao diesel, especialmente onde as baterias não atendem às exigências operacionais de grandes veículos.
Enquanto outras montadoras se concentram exclusivamente nos carros elétricos, a Toyota mantém o volante firme na direção da diversificação energética. Para a marca japonesa, o hidrogênio ainda tem muita estrada pela frente.



