O equilíbrio entre gasolina e etanol hidratado — tradicionalmente observado na bomba — pode estar prestes a ser desfeito. Com a queda nos preços internacionais de energia e a pressão de reajustes esperados nas refinarias, o mercado brasileiro já se prepara para uma possível reconfiguração do cenário dos combustíveis.
Segundo análises recentes, o preço da gasolina vendida pela Petrobras pode cair entre 5% e 10%, o que tende a comprometer a competitividade do etanol nos postos e afetar diretamente o comportamento de consumo do motorista brasileiro.
Relação de paridade sob risco
Hoje, o etanol hidratado ainda apresenta certo equilíbrio frente à gasolina em algumas regiões do país, mas essa condição está cada vez mais frágil. A paridade — que torna o etanol vantajoso quando seu preço corresponde a até 70% do preço da gasolina — pode se distanciar ainda mais do ideal se houver novos cortes nos preços da gasolina. Isso tornaria o etanol uma opção menos atrativa, especialmente em mercados onde o consumidor já vem optando por combustíveis fósseis.
Além disso, apesar do recente aumento de oferta proveniente do etanol de milho, a safra 2025/26 de cana-de-açúcar deve apresentar redução na produção destinada aos biocombustíveis, limitando a oferta geral e impedindo uma queda significativa nos preços do etanol.
Movimentações no mercado indicam tendência de queda
No polo de Paulínia (SP), principal termômetro nacional, o etanol fechou setembro cotado a R$ 2,82 por litro, sem impostos. Já a média mensal chegou a R$ 2,85, uma alta de 3% em relação ao período anterior. Enquanto isso, contratos futuros de gasolina negociados no mercado norte-americano giram em torno de R$ 2,62 por litro, evidenciando uma defasagem em relação ao combustível vendido no Brasil, atualmente a R$ 2,85 por litro em Paulínia. Essa diferença técnica reforça a possibilidade de revisões para baixo no preço da gasolina doméstica nos próximos ciclos.
Antecipando esse movimento, produtores e distribuidores de etanol têm acelerado a comercialização de estoques, buscando se proteger contra uma eventual desvalorização do biocombustível, caso o ajuste na gasolina se concretize.
Entressafra pode ser momento decisivo para o etanol
Apesar das pressões, o etanol ainda pode recuperar parte do terreno perdido nos meses seguintes. A entressafra da cana, que historicamente reduz a disponibilidade do produto, pode limitar a oferta e abrir espaço para uma valorização moderada do biocombustível. Isso, claro, dependerá da postura da Petrobras quanto aos reajustes do preço da gasolina, além da reação do mercado internacional às novas políticas de energia e clima.
Se o reajuste da gasolina não vier no curto prazo, o etanol pode ganhar força no atacado e pressionar os preços ao consumidor no início de 2025, principalmente em regiões com presença significativa de usinas.



