Nesta sexta-feira, o Brasil inicia uma nova fase no setor automotivo e de combustíveis com a implementação oficial da gasolina E30, que passa a conter 30% de etanol anidro em sua composição. Ao mesmo tempo, o diesel B15, com 15% de biodiesel, também começa a ser comercializado nos postos de todo o país.
Essas mudanças fazem parte da Lei “Combustível do Futuro”, aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo governo federal, com a promessa de impulsionar a sustentabilidade, reduzir a importação de combustíveis fósseis e promover uma renovação tecnológica no transporte brasileiro.
A promessa: mais economia e autonomia energética
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a nova composição da gasolina pode representar uma redução de até R$ 0,11 por litro nos postos, principalmente porque o etanol, por ser nacional, tende a baratear o custo final do combustível. Entretanto, especialistas alertam que a elevação da demanda pode elevar o preço do próprio etanol, anulando parte dessa expectativa de economia para o consumidor final.
A nova política também busca reduzir a dependência de importações. Com o E30, o governo projeta um excedente de 700 milhões de litros de gasolina por ano, o que devolve ao Brasil o status de autossuficiente no combustível, após 15 anos. No diesel, o avanço para B15 deve diminuir o volume de óleo fóssil trazido do exterior e impulsionar a cadeia de biodiesel, especialmente a baseada no processamento de soja.
O que muda para os carros na prática?
Mais de 85% da frota nacional é composta por veículos flex, ou seja, aptos a rodar com qualquer proporção de gasolina e etanol. Para esses modelos, o impacto será praticamente nulo, já que seus motores são calibrados para aceitar essas variações de mistura com facilidade.

Entretanto, para carros movidos exclusivamente a gasolina, especialmente os modelos antigos ou importados que não foram adaptados às normas brasileiras, o novo teor alcoólico pode gerar alguns efeitos colaterais. O etanol é mais corrosivo do que a gasolina pura e, em veículos não preparados, pode comprometer mangueiras, juntas e sensores, acelerando o desgaste de componentes como elastômeros e gerando falhas na injeção eletrônica.
Carros antigos, especialmente aqueles fabricados antes dos anos 1990, exigem atenção redobrada. Para esses modelos, é recomendável realizar uma revisão completa no sistema de alimentação e combustível, de preferência com a substituição preventiva de peças sensíveis à ação do etanol.
Diesel B15: caminhões, tratores e ônibus no foco da descarbonização
No transporte pesado, a substituição gradual do diesel tradicional por misturas com biodiesel já é uma realidade desde os anos 2000. Agora, com o B15 se tornando a mistura obrigatória, o objetivo é acelerar a descarbonização da frota brasileira, especialmente caminhões, ônibus urbanos e veículos agrícolas. A medida está diretamente conectada às metas ambientais nacionais e aos compromissos internacionais firmados pelo Brasil para redução de emissões.
Com a nova mistura, o governo estima mais de R$ 5 bilhões em investimentos em usinas e unidades de esmagamento de soja, o que fortalece a produção de biodiesel. Além disso, a mudança deve criar mais de 4 mil empregos diretos, além de incorporar cerca de 5 mil famílias da agricultura familiar ao Programa Selo Biocombustível Social, com um potencial de incremento de R$ 600 milhões na renda dos pequenos produtores rurais.
Cadeia produtiva e impacto para o setor automotivo
A indústria automobilística brasileira acompanha de perto essa transição. Apesar dos motores flex se adaptarem bem às mudanças, há um ponto de atenção para montadoras e fornecedores de componentes, que precisarão considerar o novo cenário nos projetos de médio e longo prazo. Isso inclui desde a homologação de peças resistentes ao etanol em maior concentração até o desenvolvimento de motores otimizados para o novo tipo de combustível.
Além disso, a medida deve atrair novos investimentos para a cadeia de etanol, com expectativa de mais de R$ 10 bilhões em aportes nos próximos anos. O aquecimento do setor também pode gerar cerca de 50 mil novos postos de trabalho, fortalecendo o elo entre o setor automotivo e o agronegócio.