Quando se fala em carros clássicos nacionais que uniram ousadia, requinte e uma dose de engenharia conjunta improvável, o nome Ford Versailles sempre aparece.
Lançado no início da década de 1990, o modelo não apenas representou uma nova tentativa da Ford de dominar o segmento dos sedãs médios como também simbolizou o ápice de uma das parcerias mais curiosas da indústria automotiva brasileira: a Autolatina, união entre Ford e Volkswagen.
O nascimento de um projeto ousado
A ideia de compartilhar plataformas entre duas gigantes do setor automobilístico parecia ousada, mas virou realidade no fim dos anos 80. A Ford, com dificuldades em competir com os rivais em tecnologia e volume, e a Volkswagen, buscando expandir sua atuação, deram origem à joint venture Autolatina. Dessa união, nasceu o Versailles: um sedã médio desenvolvido sobre a base do Volkswagen Santana, mas com uma roupagem pensada para transmitir o refinamento esperado de um Ford.

A primeira versão chegou às ruas em 1991, com design redesenhado na dianteira e na traseira, que lhe conferia uma identidade visual própria. Mesmo sendo “irmão” do Santana, o Versailles se diferenciava com faróis mais afilados, grade dianteira horizontalizada e lanternas traseiras exclusivas. O capô liso e as rodas com acabamento mais sóbrio completavam a estética de um sedã voltado ao consumidor mais conservador, mas exigente.
Destaques do design e acabamento
Um dos trunfos do Versailles era justamente seu visual mais requintado. Na época, ele brigava diretamente com modelos como Chevrolet Monza e Fiat Tempra, ambos bastante populares entre executivos e famílias de classe média alta.

O Versailles apostava em um perfil mais europeu, com linhas retas, proporções equilibradas e um interior que buscava entregar conforto e elegância.
A cabine contava com materiais bem acabados, volante anatômico e painel de instrumentos com boa legibilidade. Os bancos, em veludo ou couro (nas versões mais completas), ofereciam apoio adequado, enquanto o espaço interno era digno de um sedã médio.

A ergonomia também foi bem pensada para a época, com comandos ao alcance das mãos e detalhes como o console central elevado e os difusores de ar bem posicionados.
Motorização e desempenho
Sob o capô, o Ford Versailles foi oferecido com duas opções de motorização durante sua trajetória. A principal era o confiável motor 1.8 e 2.0 AP, ambos de origem Volkswagen. Esses propulsores já eram bem conhecidos pelo mercado e entregavam um equilíbrio entre desempenho e manutenção acessível. O motor 2.0 com injeção multiponto, disponível nas versões mais equipadas, entregava cerca de 116 cv, o que era respeitável para um sedã nacional da época.
As transmissões podiam ser manual de cinco marchas ou, em algumas versões, automática de quatro velocidades — uma raridade entre os sedãs brasileiros naquele período. Esse conjunto mecânico era robusto, confiável e fácil de manter, o que contribuiu para a boa aceitação do Versailles entre motoristas que buscavam um carro durável para uso urbano e rodoviário.
Versões, equipamentos e evolução
O Versailles foi lançado inicialmente nas versões GL, GLX e mais tarde a top de linha Ghia, que oferecia um pacote bastante completo para o início da década de 1990. Entre os itens de série e opcionais estavam vidros e travas elétricas, ar-condicionado, direção hidráulica, retrovisores elétricos, freios a disco nas quatro rodas e até teto solar, um luxo na época.

Além disso, a Ford investiu na produção de uma variante mais curta com duas portas (basicamente voltada ao sul do país) e também na versão Royale, que nada mais era do que a perua derivada do Versailles, com amplo espaço no porta-malas e apelo familiar.
Popularidade e fim da linha
Mesmo não sendo um campeão de vendas, o Versailles teve seu público fiel. Seu maior mérito foi entregar sofisticação sem exageros e uma experiência de direção mais tranquila e confortável. Em comparação com os concorrentes, o sedã da Ford se destacava pelo visual refinado e pelo bom comportamento dinâmico na estrada, além do consumo comedido.
Com o fim da Autolatina em 1996, o Versailles deixou de ser produzido, encerrando uma curta, porém relevante trajetória no mercado brasileiro. Ele foi substituído pelo Ford Mondeo, modelo de origem europeia que inaugurava uma nova fase da marca no país.
Como o Versailles é visto hoje?
Atualmente, o Ford Versailles é considerado um clássico da década de 90, especialmente entre colecionadores e entusiastas de sedãs nacionais. Seu estilo sóbrio, mecânica resistente e história singular o tornaram um modelo querido nos encontros de carros antigos.
Com manutenção acessível, peças disponíveis e uma legião de fãs, o Versailles encontrou seu espaço entre os veículos que marcaram época — um verdadeiro símbolo de um tempo em que parcerias improváveis resultaram em modelos surpreendentes.