A crise silenciosa que atinge o mercado europeu de veículos elétricos ganhou um novo capítulo. Após encerrar postos no Reino Unido e tirar de linha modelos icônicos como o Fiesta e o Mondeo, a Ford agora avalia demitir até 1.000 funcionários na unidade de Colônia, na Alemanha.
O motivo? As vendas dos modelos Capri EV e Explorer elétrico ficaram bem abaixo do esperado, colocando em xeque os planos ousados da montadora para a eletrificação total de sua linha no continente.
Elétricos que não decolaram e um mercado cauteloso
O cenário não poderia ser mais emblemático. A Ford apostou alto nos modelos 100% elétricos de médio porte, mas a realidade foi dura. O Explorer EV, derivado da plataforma MEB do Grupo Volkswagen, foi lançado com expectativa de liderar a virada elétrica da marca.

O Capri, que resgata um nome lendário com roupagem moderna e motorização zero emissões, também era visto como um trunfo comercial. Contudo, ambos não emplacaram nas concessionárias europeias, e a produção precisou ser desacelerada logo após o início.
Obstáculos além dos modelos
A própria montadora reconhece que o problema vai além da aceitação dos veículos. Em nota oficial, a Ford atribui o baixo desempenho de vendas a uma infraestrutura de recarga ainda insuficiente, à falta de incentivos claros por parte dos governos europeus e ao custo elevado dos veículos elétricos, que ainda afasta o consumidor médio.
“Nosso foco é garantir a sustentabilidade do negócio de veículos de passageiros na Europa”, destacou a empresa. “A transição acelerada para modelos eletrificados e a nova concorrência no setor impõem desafios profundos.”
Pressão sobre a União Europeia e mudança de planos
Esse movimento da Ford não ocorre isoladamente. Outras montadoras tradicionais vêm pressionando a União Europeia a revisar as regras ambientais que restringem os motores a combustão. Embora a meta de banir a venda de carros com motor térmico a partir de 2035 ainda esteja em vigor, o setor automotivo sofre com a insegurança do consumidor e o ritmo desigual da infraestrutura para eletrificação entre os países-membros.
A Ford, que até recentemente defendia produzir somente carros elétricos na Europa a partir de 2030, já recuou oficialmente desse plano. Agora, o foco é equilibrar a oferta entre modelos elétricos e híbridos, adaptando-se ao que o mercado de fato consegue absorver.
Foco em novos SUVs e fim do Focus
Outro impacto direto desse realinhamento estratégico é a decisão de encerrar a produção do Ford Focus, um dos últimos remanescentes da era dos hatches médios na Europa. Em contrapartida, a marca já anunciou que um novo SUV híbrido está em desenvolvimento, o que sinaliza uma retomada de projetos menos ambiciosos, mas com maior viabilidade comercial imediata.
Esse novo modelo deverá ocupar a faixa de entrada da marca nos próximos anos, oferecendo um meio-termo entre as exigências ambientais e o que os consumidores estão dispostos — e conseguem — pagar.



