A Great Wall Motor (GWM), maior montadora privada da China, acaba de inaugurar oficialmente sua fábrica no Brasil e promete agitar o mercado automotivo nacional. A instalação em Iracemápolis (SP) não apenas marca o início da produção local de veículos híbridos e elétricos, como também simboliza um movimento estratégico para transformar o Brasil em uma base de exportação para a América Latina.
O investimento total deve chegar a R$ 10 bilhões até 2032, consolidando a ambição da GWM de se tornar protagonista em inovação e mobilidade sustentável no país.
Indústria verde e geração de empregos
O primeiro ciclo de aportes vai até 2026, somando R$ 4 bilhões com foco em nacionalização de peças e expansão da cadeia produtiva. A meta é atingir 60% de conteúdo nacional, o que inclui desde componentes estruturais até tecnologia embarcada. Para isso, a empresa já cadastrou mais de 100 fornecedores brasileiros e prevê a criação de 900 postos de trabalho ainda em 2024.
Além de fortalecer a indústria de autopeças, o projeto alinha-se com a política de reindustrialização ecológica defendida pelo governo federal. Durante a inauguração, o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin destacaram o papel do setor automotivo na geração de empregos e na transição energética. Alckmin reforçou que a GWM terá um centro de inovação em parceria com a Bosch, incluindo laboratórios de P&D, áreas de teste e desenvolvimento de software automotivo.
Capacidade de produção e foco em eletrificação
A fábrica de Iracemápolis começa com capacidade para produzir 30 mil veículos por ano, podendo chegar a 50 mil unidades anuais conforme a ampliação das linhas. O foco inicial será nos modelos Haval H6, H9 e Poer, todos da família de veículos híbridos e 100% elétricos da GWM. Essas versões devem atender não apenas ao mercado interno, mas também aos países vizinhos, como Argentina, México, Uruguai e Chile, que já estão entre os principais destinos de exportações brasileiras.
A planta está integrada ao Programa MOVER, criado pelo governo para incentivar a produção nacional de veículos mais eficientes. A contrapartida exigida envolve metas de redução de emissões, uso de tecnologias limpas e capacitação da mão de obra local. Em troca, a GWM terá acesso a créditos tributários progressivos, o que viabiliza uma produção mais robusta e financeiramente sustentável no país.
Brasil como polo estratégico de exportação
O movimento da GWM está inserido em um momento em que o Brasil retoma seu fôlego industrial. Em 2024, a produção nacional de veículos cresceu 9,7%, alcançando 2,5 milhões de unidades, segundo dados do setor. Hoje, o Brasil figura como o 7º maior mercado de consumo automotivo do mundo e 8º maior produtor global, uma posição estratégica para qualquer montadora que deseja expandir na América Latina.
Com isso, a expectativa da GWM é não apenas ganhar espaço entre os consumidores brasileiros, mas também transformar a unidade de Iracemápolis em centro de exportação de carros eletrificados para toda a região. A fábrica deve aproveitar o potencial logístico e o ambiente regulatório favorável para consolidar uma cadeia regional integrada, especialmente diante da demanda crescente por modelos híbridos e elétricos no continente.
Veículos do futuro e nacionalização tecnológica
Apesar de manter o olhar no longo prazo, a GWM está empenhada em produzir já no curto prazo veículos competitivos no segmento dos SUVs médios e picapes. A marca quer brigar diretamente com modelos tradicionais e se diferencia ao oferecer eletrificação em larga escala, o que ainda é um diferencial entre os veículos vendidos no país.
A nacionalização de componentes também inclui baterias, sistemas elétricos, conectividade e itens de segurança veicular, todos desenvolvidos ou montados no Brasil, com suporte do centro de inovação anunciado. O objetivo é manter parte relevante da engenharia no território nacional, garantindo autonomia técnica e incentivando a formação de mão de obra qualificada.



