Com um mercado automotivo cada vez mais pressionado por metas de descarbonização e políticas de transição energética, o etanol ressurge como peça-chave na estratégia brasileira de mobilidade sustentável. De acordo com um estudo recente apresentado pelo Instituto MBC Brasil, a demanda por etanol pode crescer até 2,4 vezes até 2040, sustentada por avanços tecnológicos e pela consolidação de programas de baixo carbono voltados ao transporte.
Mais do que um combustível alternativo, o etanol ocupa um papel estratégico ao lado da eletrificação veicular, ampliando as possibilidades de soluções integradas e acessíveis para uma matriz energética mais limpa.
Enquanto os veículos elétricos ganham espaço em centros urbanos e rotas curtas, o etanol mantém sua importância em trajetos de longa distância e em regiões onde a infraestrutura de recarga elétrica ainda é limitada. A convivência entre ambos os caminhos é, na prática, um diferencial competitivo do Brasil.
Segundo o levantamento, o avanço da mobilidade de baixo carbono passa pela diversificação tecnológica. Isso inclui desde o fortalecimento dos carros flex — ainda amplamente utilizados — até o desenvolvimento de veículos híbridos com motor flex, que unem a eficiência elétrica ao uso de biocombustível renovável.
Essa abordagem híbrida faz do Brasil um dos poucos países com capacidade de equilibrar a eletrificação gradual com uma cadeia já consolidada de produção, distribuição e consumo de etanol.
O cenário projetado até 2040 leva em conta não apenas o crescimento do consumo interno, mas também a abertura de novos mercados internacionais interessados em importar combustíveis com menor impacto ambiental. Países com metas climáticas rigorosas e sem condições de produzir sua própria bioenergia veem o Brasil como um fornecedor natural de etanol de segunda geração, derivado de resíduos da cana-de-açúcar.
Esse movimento geopolítico amplia o protagonismo nacional, transformando o etanol em ativo estratégico não só para o transporte interno, mas também como commodity verde no mercado global.
Apesar do otimismo, o estudo alerta para gargalos estruturais que precisam ser superados para garantir o crescimento projetado. Entre os principais entraves estão:
- Infraestrutura defasada para distribuição em determinadas regiões;
- A necessidade de incentivos fiscais e políticas públicas mais robustas;
- E o desafio de integrar o etanol às novas arquiteturas veiculares globais, como os powertrains híbridos e flexíveis.
Além disso, é fundamental acelerar o investimento em inovação e pesquisa aplicada, para tornar o combustível ainda mais eficiente e sustentável, incluindo o uso de novas matérias-primas e tecnologias de captura de carbono.
Com a COP30 prevista para acontecer em Belém, o Brasil entra em um momento simbólico e estratégico para mostrar ao mundo seu potencial energético limpo. O país não apenas possui um dos maiores programas de biocombustíveis do planeta, como também reúne condições climáticas, tecnológicas e econômicas para liderar a transição energética de forma inclusiva e realista.
O estudo destaca que a tradição brasileira no uso do etanol, aliada à ampla frota flex e à expertise agrícola, posiciona o país como referência global na produção de energia renovável para mobilidade. Esse know-how pode ser decisivo na construção de um modelo de transporte limpo que seja economicamente viável para países em desenvolvimento.


