A escolha do combustível ideal vai muito além do preço na bomba. Por trás dos nomes comuns, aditivado e premium, existem diferenças técnicas reais que afetam o desempenho, a limpeza do motor, a durabilidade das peças e até o consumo de combustível.
Mas será que o seu carro precisa de gasolina premium? Será que abastecer com aditivada vale o investimento extra? Ou o combustível comum já é suficiente para a maioria dos veículos?
Octanagem: o número que influencia a queima do combustível
Quando se fala em combustível automotivo, o termo octanagem aparece como um dos principais pontos de comparação. Ela representa a resistência do combustível à detonação espontânea — ou seja, quanto mais alta a octanagem, mais o combustível aguenta pressão sem explodir prematuramente dentro da câmara de combustão.
A gasolina comum no Brasil tem octanagem mínima de 87 IAD (Índice Antidetonante), enquanto a premium pode chegar a 97 IAD. Isso faz diferença? Sim — principalmente em motores com alta taxa de compressão, como os turboalimentados, ou veículos esportivos. Para carros populares e com motores aspirados convencionais, o ganho de desempenho com octanagem mais alta é praticamente nulo.
Gasolina comum: suficiente para a maioria, mas sem proteção extra
A gasolina comum é a mais popular e econômica. Ela atende às especificações mínimas da ANP e é compatível com a maior parte dos carros vendidos no país. Porém, não contém aditivos detergentes — o que, com o tempo, pode favorecer o acúmulo de resíduos nos bicos injetores, válvulas e na câmara de combustão.

Para quem dirige em trajetos curtos, no anda e para do trânsito urbano, esse acúmulo pode ser mais acelerado. Ainda assim, se o carro estiver em boas condições, com revisões em dia, o uso da gasolina comum não causa danos imediatos ao motor.
Gasolina aditivada: proteção extra para quem pensa no longo prazo
A diferença principal da gasolina aditivada está nos aditivos detergentes e dispersantes misturados ao combustível. Esses aditivos ajudam a limpar os componentes internos do sistema de alimentação e impedem a formação de depósitos carbonosos.
Muitos motoristas acreditam que a aditivada melhora a potência ou a economia, mas na prática, isso não é verdade para todos os carros. O benefício está em reduzir a formação de sujeira interna, o que preserva o rendimento original do motor com o passar do tempo. É especialmente recomendada para quem roda pouco, ou para quem quer manter o sistema limpo entre as revisões.
É importante lembrar que algumas montadoras já recomendam o uso contínuo de gasolina aditivada nos seus manuais — inclusive em modelos populares. Nesse caso, vale seguir a recomendação do fabricante para preservar a garantia do veículo.
Gasolina premium: indicada para motores que exigem alto desempenho
A gasolina premium tem dois diferenciais: alta octanagem e pacote de aditivos mais robusto. Ela foi desenvolvida para veículos com motores mais modernos, geralmente com injeção direta, turbo ou taxas de compressão elevadas, que exigem maior resistência à detonação.

O uso desse tipo de combustível é essencial para veículos importados e modelos esportivos. Quando o motor exige uma octanagem mínima acima da oferecida pela gasolina comum, abastecer com um combustível de menor qualidade pode causar detonação precoce (batida de pino), perda de potência, maior consumo e até danos internos ao motor.
Por outro lado, carros comuns não tiram vantagem real do uso da gasolina premium. Além de não gerar ganho de potência, o custo mais alto por litro acaba não se traduzindo em economia no consumo. Ou seja, é um combustível premium para motores que realmente precisam dele.
Etanol: alternativa viável e potente, mas com características próprias
Embora o foco do debate geralmente esteja nas diferentes gasolinas, o etanol segue sendo uma opção viável e até vantajosa em muitas regiões do Brasil. Com octanagem natural acima de 108 IAD, o etanol permite altas taxas de compressão, gerando ótima performance em motores flex, além de ser menos poluente.
Contudo, ele tem menor poder calorífico, o que significa que o carro consome mais litros para rodar a mesma distância. A vantagem do etanol está no custo por litro, na potência gerada e no menor impacto ambiental, mas seu uso deve ser analisado de acordo com os preços regionais e a autonomia do carro.
Misturar tipos diferentes de combustível faz mal?
Uma dúvida frequente dos motoristas é se misturar combustível comum e aditivado — ou até comum e premium — pode prejudicar o carro. A resposta é não, desde que todos estejam dentro das normas da ANP.
Misturas pontuais não causam problemas, mas a prática não traz os benefícios completos de cada tipo. Por exemplo, ao colocar meio tanque de gasolina comum e meio tanque de aditivada, o efeito de limpeza será limitado, já que a concentração de aditivos estará diluída.
Por isso, se a intenção é manter o motor limpo, é melhor optar sempre pelo mesmo tipo de combustível, evitando alternância constante.
O que o manual do seu carro diz? Ele é o melhor guia
No fim das contas, a resposta mais segura sobre o melhor combustível para o seu carro está no manual do proprietário. As montadoras especificam o tipo de combustível ideal de acordo com o projeto do motor, e essa informação deve ser seguida à risca.
Ignorar essa orientação pode não só comprometer o desempenho como colocar em risco sistemas sensíveis, como sensores de detonação, velas e catalisadores.



