Entre janeiro e setembro de 2025, o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) registrou 89.150 atendimentos relacionados a colisões de veículos no Paraná. Desse total, um número chama atenção de forma especial: 32.201 vítimas tinham entre 20 e 29 anos de idade. A faixa etária de adultos jovens não só lidera as estatísticas como reforça uma tendência histórica que tem desafiado autoridades em trânsito, saúde e segurança pública.
Apesar de representar uma redução de 6,95% no número de ocorrências em relação ao mesmo período de 2024 — quando foram contabilizados 34.439 acidentes com vítimas dessa mesma idade — o índice ainda é alto. E mesmo a queda geral de 4,56% no total de acidentes no Estado não é suficiente para neutralizar o impacto dessa realidade, especialmente porque ela envolve indivíduos em plena idade produtiva e socialmente ativa.
Um retrato preocupante do comportamento nas vias
Segundo especialistas do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR), a juventude ao volante ainda mistura excesso de confiança, imprudência em horários de risco e subestimação das consequências. Grande parte dos acidentes com vítimas nessa faixa de idade ocorre durante a madrugada, especialmente aos fins de semana, em deslocamentos após festas, bares ou baladas.
Aliás, é justamente esse contexto que preocupa. A capitã Luisiana Guimarães Cavalca, do CBMPR, destaca que a combinação entre cansaço, álcool e velocidade acima do permitido agrava os desfechos desses acidentes. “Apesar das campanhas educativas, ainda temos muitos casos em que o comportamento de risco está presente. A direção defensiva é negligenciada”, reforça.
Faixas etárias mais velhas mostram queda mais acentuada
O levantamento do Siate também revela um decréscimo progressivo nos atendimentos conforme a idade avança. De janeiro a setembro de 2025, foram registrados:
- 18.583 atendimentos de pessoas entre 30 e 39 anos
- 12.943 casos entre 40 e 49 anos
- 8.194 ocorrências entre 50 e 59 anos
- 3.970 atendimentos de 60 a 69 anos
- Apenas 2.090 casos entre idosos com mais de 70 anos
Os números revelam que, embora a idade traga experiência e cautela ao volante, os mais jovens ainda precisam amadurecer a relação com a direção, principalmente em situações que envolvem lazer e uso do automóvel fora do horário comercial.
Plano estadual visa reduzir mortes em 50% até 2030
Em resposta ao cenário, o Estado lançou o PETRANS-PR 2025-2030, um Plano Estadual de Segurança no Trânsito que busca reduzir pela metade o índice de mortes viárias por 100 mil habitantes até o fim da década.
A meta é ousada, mas necessária: em 2020, o índice no Paraná era de 21,7 mortes por 100 mil habitantes. Com o novo plano, espera-se chegar a 10,8 até 2030. Para isso, o documento prevê 115 ações estruturadas em 30 metas estratégicas, envolvendo:
- Investimentos em infraestrutura viária segura
- Ações conjuntas entre as secretarias de saúde, educação, segurança, meio ambiente e mobilidade urbana
- Fortalecimento da fiscalização
- Campanhas de conscientização específicas para os públicos mais vulneráveis
Impacto financeiro também preocupa o sistema de saúde
Além das tragédias humanas, os acidentes de trânsito também impõem um peso financeiro alto ao Estado. Em 2023, as lesões causadas por acidentes geraram mais de R$ 20 milhões em internações hospitalares no SUS do Paraná. Em 2024, mesmo com a queda no número de colisões, o custo ultrapassou os R$ 18 milhões — sendo que mais da metade desse valor corresponde a ocorrências envolvendo motocicletas.
O dado revela a importância de ações específicas para motociclistas, que seguem entre os mais vulneráveis nas ruas e estradas paranaenses.
Direção defensiva: o melhor freio para estatísticas
O CBMPR reforça que as recomendações de segurança no trânsito são universais, mas a adesão de jovens motoristas é fundamental para reverter os índices. Evitar velocidade acima do permitido, fazer pausas ao dirigir com sono, não misturar álcool e direção, e respeitar as sinalizações são atitudes simples, mas que salvam vidas.
A combinação de formação contínua, educação no trânsito desde cedo e fiscalização eficiente será o tripé fundamental para transformar o comportamento ao volante no Paraná — e evitar que mais jovens entrem para as estatísticas que, infelizmente, ainda lideram.



