Poucas pessoas no mundo foram tão decisivas para a história da McLaren quanto Mansour Ojjeh. Empresário visionário e entusiasta automotivo, ele não apenas ajudou a moldar a escuderia de Fórmula 1 no auge dos anos 1980 e 1990, como também foi peça-chave para o nascimento da divisão de supercarros da marca. Agora, três anos após sua morte, a coleção pessoal que construiu com paixão e propósito está prestes a ganhar um novo destino — e fazer história mais uma vez.
Ao todo, 20 carros da McLaren cuidadosamente escolhidos, preservados e encomendados diretamente pela fábrica estão à venda em um dos movimentos mais relevantes do mercado de carros exóticos nas últimas décadas. E mais do que raridade, o conjunto carrega uma simbologia profunda, que vai muito além da estética e da performance: é o reflexo da visão de um homem que apostou tudo em uma ideia — e venceu.
O McLaren F1 final: um ícone em tom exclusivo
O grande destaque da coleção é o último McLaren F1 de produção, chassis #106, concluído em 1998. O exemplar único está pintado no tom Yquem, uma tonalidade perolada dourada que mais tarde foi renomeada pela própria montadora como “Laranja Mansour”, em homenagem ao colecionador. O carro rodou apenas 1.810 km em mais de duas décadas, mantendo seu estado de conservação praticamente intocado.

O modelo é o ápice da engenharia analógica da McLaren. Equipado com motor V12 aspirado de 6.1 litros desenvolvido pela BMW, o F1 entrega 627 cv e acelera de 0 a 100 km/h em 3,2 segundos, com velocidade máxima acima dos 386 km/h — um feito monumental para um carro sem turbocompressor e com câmbio manual de seis marchas.
Mais do que um superesportivo, o McLaren F1 é considerado até hoje uma obra de arte funcional, com chassi e carroceria em fibra de carbono, posição de condução central e porta-malas suficiente para uso em viagens. Sua importância transcende o desempenho: é o carro que definiu um novo patamar para os hipercarros.
Uma coleção montada com critério e propósito

Além do F1, a coleção conta com unidades extremamente raras de todos os principais lançamentos da marca desde a década de 2010. Entre eles estão:
- McLaren P1 GTR: versão de pista do hipercarro híbrido da marca, com 1000 cv combinados de um motor V8 biturbo e um sistema elétrico. O modelo presente na coleção rodou pouquíssimo e também é um dos últimos produzidos.
- McLaren Speedtail: projetado como sucessor espiritual do F1, o Speedtail atinge até 402 km/h e tem apenas 106 unidades produzidas, com design de baixa resistência aerodinâmica e layout de cabine em posição central.
- McLaren Senna: talvez o mais agressivo dos modelos contemporâneos da marca, com foco total em pista e motor V8 biturbo de 800 cv. A unidade da coleção ostenta pintura especial em fibra de carbono exposta com detalhes em amarelo e verde, uma provável homenagem às cores do capacete do tricampeão brasileiro.
- McLaren Elva: roadster sem para-brisa com produção limitada a 149 unidades, desenvolvido para oferecer a experiência de condução mais crua da marca.
- McLaren Sabre: modelo exclusivo para o mercado norte-americano com produção limitada e design exótico, entregando 835 cv e aerodinâmica ativa.
A lista segue com variações das séries Longtail (LT), incluindo 600LT, 675LT e 765LT, além de versões Spider, modelos Le Mans Edition, e outras séries personalizadas sob encomenda. Muitos deles foram solicitados por Ojjeh com o mesmo conceito: sempre o último chassi produzido, com as mais recentes atualizações técnicas e estéticas da linha.
Manutenção feita pela McLaren: um privilégio raro
Outro detalhe que torna essa coleção inigualável é o nível de conservação. Salvo duas exceções — o F1 e o P1 GTR, ambos com pouca rodagem — todos os outros carros jamais foram dirigidos. Estão exatamente como saíram da linha de produção, e todos foram mantidos sob responsabilidade direta da McLaren Special Operations (MSO), setor responsável por personalizações e cuidados especiais da marca.
Esse tipo de serviço nunca foi oferecido a outro colecionador de forma tão completa, o que evidencia a relação de confiança e respeito entre a montadora e Ojjeh.
Segundo Kathy Ojjeh, viúva do empresário, a decisão de vender a coleção é difícil, mas necessária: “É hora de encontrar um novo guardião. Alguém que entenda o valor e a alma desses carros, como Mansour sempre entendeu.”
Valor histórico e potencial recorde no mercado
Com valor estimado superior a US$ 50 milhões, a coleção de Mansour Ojjeh não representa apenas uma reunião de carros raros. Ela carrega consigo o DNA da McLaren, uma narrativa sobre risco, inovação e legado. O conjunto reúne o que há de mais significativo na história recente da marca e tem potencial para estabelecer novos recordes no mercado de colecionáveis automotivos.
Para colecionadores, entusiastas ou mesmo investidores que compreendem o valor além do tangível, essa pode ser uma das poucas chances de adquirir — de uma só vez — os ícones que ajudaram a construir a reputação da McLaren fora das pistas.



