A proposta em debate nos corredores do Ministério dos Transportes promete redesenhar o caminho de quem sonha em conquistar a Carteira Nacional de Habilitação. O projeto, já em consulta pública, elimina a exigência de frequentar autoescola para obter a CNH, permitindo que o candidato escolha como se preparar para os exames. A expectativa é que o custo para tirar o documento — que atualmente ultrapassa os R$ 3 mil — caia até 80% com a flexibilização.
A proposta ainda está em fase de discussão popular, hospedada na plataforma Participa + Brasil, onde qualquer cidadão pode enviar comentários ou sugestões por 30 dias. Ao fim desse prazo, o texto será encaminhado ao Contran (Conselho Nacional de Trânsito) para análise e possível implementação.
Mais liberdade para aprender a dirigir
O novo modelo de habilitação apresentado pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) quebra o paradigma de que só se aprende a dirigir com aula marcada em autoescola. A ideia central é dar autonomia ao candidato, que poderá estudar a parte teórica por meio de plataformas digitais ou cursos à distância — inclusive com conteúdo gratuito oferecido pela própria Senatran.
Já no caso das aulas práticas, a proposta elimina a exigência de uma carga horária mínima de 20 horas, que hoje encarece e engessa o processo. Em vez disso, o futuro motorista poderá contratar diretamente um instrutor autônomo credenciado pelo Detran ou continuar com os CFCs, se preferir. A única exigência permanece: passar nos exames teórico e prático.
Modelos flexíveis, tecnologia e menor custo
A digitalização da formação é um dos pilares centrais do projeto. O conteúdo teórico será oferecido em diferentes formatos, e o próprio candidato poderá iniciar o processo online — seja pelo site da Senatran, seja pela Carteira Digital de Trânsito (CDT).
A expectativa do governo é que, com a ampliação das opções e o fim da obrigatoriedade de aulas presenciais e carga horária fixa, o preço da habilitação fique muito mais acessível. Isso deve beneficiar, principalmente, quem abandonou o sonho de dirigir por falta de recursos.
Hoje, mais de 20 milhões de brasileiros conduzem veículos sem estarem habilitados, segundo o próprio Ministério dos Transportes. A medida também mira essa informalidade, ao facilitar o ingresso de motoristas dentro das regras, fortalecendo a fiscalização e, consequentemente, a segurança viária.
E as autoescolaas, perdem espaço?
Embora o projeto elimine a obrigatoriedade dos Centros de Formação de Condutores (CFCs), o governo reforça que eles continuarão sendo parte importante do ecossistema de formação. Além de poderem oferecer os cursos na modalidade presencial e a distância, os CFCs poderão adaptar seus pacotes para atender quem ainda deseja uma formação tradicional ou mais completa.
A diferença é que, agora, o aluno escolhe. Isso deve aumentar a concorrência e, naturalmente, estimular redução de preços e melhorias na prestação dos serviços.
Instrutores autônomos: uma nova categoria em ascensão
Outro ponto chave da proposta é o credenciamento de instrutores autônomos para a formação prática. Esses profissionais serão regulamentados pelos Detrans e terão que cumprir critérios rigorosos, passando por cursos específicos — que também poderão ser feitos online. Tudo será vinculado à Carteira Digital de Trânsito, garantindo rastreabilidade e legalidade na atuação.
Assim, o candidato poderá contratar um instrutor direto pela plataforma, com recursos de agendamento, localização por GPS e pagamento digital. A ideia é facilitar tanto para quem ensina quanto para quem aprende, utilizando modelos semelhantes aos já usados por aplicativos de mobilidade.
Caminho mais leve para as categorias C, D e E
A simplificação também se estende às categorias profissionais. Motoristas que desejam conduzir veículos de carga ou transporte de passageiros terão processos menos burocráticos. A formação continuará sendo realizada por autoescolas ou entidades especializadas, mas com menos entraves regulatórios, o que pode facilitar a vida de quem busca uma carreira no setor de transportes.
O Brasil seguindo exemplos internacionais
A proposta brasileira se inspira em modelos já adotados em países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Japão, Paraguai e Uruguai. Nessas nações, os sistemas de formação são mais flexíveis, permitindo que o cidadão assuma maior responsabilidade sobre sua capacitação — mas sempre mantendo os exames oficiais como etapa obrigatória e decisiva.
No Brasil, a ideia caminha na mesma direção: oferecer liberdade de escolha, baratear o processo e garantir que apenas os realmente capacitados recebam a habilitação.
CNH mais barata e acessível: quem ganha com isso?
A iniciativa tem como foco principal os brasileiros que ainda não tiraram sua habilitação, muitas vezes por não conseguirem pagar pelo processo. Estima-se que mais de 160 milhões de brasileiros já estão em idade para dirigir, mas uma parcela significativa ainda não possui o documento. Com o novo modelo, esse cenário pode mudar.
Ao tornar o processo mais digital, direto e menos custoso, o governo busca incluir milhões de novos motoristas no sistema formal — o que, além de aumentar a arrecadação com taxas e registros, deve ajudar a organizar o trânsito brasileiro e melhorar a segurança nas vias.



