O que antes era um diferencial técnico agora vira um serviço por assinatura. A Volkswagen deu um passo polêmico ao adotar um modelo de venda com potência limitada por software no ID.3 Pure, uma de suas versões mais acessíveis do compacto elétrico. Lançado no Reino Unido com promessa de 168 cavalos de potência, o modelo entrega inicialmente apenas 148 cv — os 20 cv restantes só aparecem mediante pagamento extra.
A montadora oferece três opções para quem deseja ativar o desempenho completo: assinatura mensal, anual ou pagamento vitalício. Os preços vão de £16,50 (cerca de R$ 115 por mês) até £649 (aproximadamente R$ 4.500) na versão definitiva. Embora o ganho de potência seja modesto, a proposta marca uma mudança no modelo de negócios da marca e levanta dúvidas entre consumidores e entusiastas.
O que o cliente realmente recebe?
Embora o ID.3 Pure continue oficialmente homologado com 168 cv, o que chega às mãos do consumidor são 148 cv e 27 kgfm de torque. O desbloqueio libera os 20 cv restantes, além de um acréscimo de 15,4 kgfm, que melhora principalmente as retomadas e a dirigibilidade urbana — embora não traga ganho de autonomia.

De acordo com a fabricante, essa abordagem seria uma evolução do que já era feito em veículos com motores a combustão, nos quais diferentes versões do mesmo bloco entregavam potências distintas, com variações de calibração. Agora, o “upgrade” vem via software e pode ser ativado a qualquer momento da vida útil do carro, sem interferência mecânica.
Potência por assinatura: o futuro chegou?
A ideia da assinatura para liberar funções não é nova no setor. Marcas como BMW, Tesla e Mercedes-Benz já experimentaram esse caminho — vendendo funções como aquecimento de bancos, comandos por voz, navegação GPS ou velocidade extra de carregamento como itens opcionais a serem ativados sob demanda.
No entanto, o caso da Volkswagen chama a atenção pelo custo-benefício. Enquanto algumas fabricantes oferecem aumentos de até 100 cv por cerca de US$ 1.200 (como visto em atualizações da Tesla e Polestar), a Volkswagen limita-se a 20 cv adicionais por quase R$ 4.500. O valor levanta questionamentos, especialmente considerando que o hardware do carro já permite o desempenho completo — ele apenas está “trancado” digitalmente.
Questões técnicas e de garantia
Apesar de a Volkswagen não detalhar se o desbloqueio é atrelado ao veículo ou à conta do usuário, o formato atual pode gerar dúvidas sobre revenda, garantia e até tentativas de desbloqueio paralelo. A limitação 100% digital torna o sistema suscetível a hacks e modificações, o que pode causar conflitos com a assistência técnica oficial e impactar a durabilidade do sistema de propulsão.

Ainda assim, a marca garante que o seguro do veículo permanece inalterado, pois a homologação oficial considera os 168 cv — mesmo que o carro entregue menos enquanto estiver com a potência limitada.
Estratégia comercial ou retrocesso?
A proposta da Volkswagen insere o ID.3 em um debate mais amplo sobre o que realmente pertence ao consumidor após a compra. A ideia de que uma parte do produto esteja inacessível, a menos que se pague uma taxa adicional, pode ser interpretada como uma tentativa de monetização agressiva, afastando o público mais purista — aquele que espera extrair o melhor do carro sem pagar por “destravamentos”.
Por outro lado, a estratégia também permite que o consumidor escolha se quer um modelo mais básico ou mais potente sem precisar decidir no momento da compra. O desbloqueio posterior pode ser visto como uma forma de escalabilidade — mas isso dependerá da aceitação do público.
O que mais o ID.3 oferece?
Além dessa polêmica, o ID.3 Pure mantém as características técnicas da linha, como a carroceria compacta, design moderno com pegada aerodinâmica, boa eficiência energética e cabine com comandos digitais e ambientação minimalista.
O modelo roda sobre a plataforma MEB, exclusiva para veículos elétricos da marca, com tração traseira e pacote de baterias com autonomia superior a 400 km no ciclo WLTP (em versões mais completas). O espaço interno é um dos pontos fortes do hatch, que aposta em ergonomia e conectividade para atrair um público urbano e conectado.



