A promessa de reformar o sistema tributário brasileiro parece estar se transformando em um campo minado para o setor automotivo. No centro da polêmica está o Imposto Seletivo, uma nova cobrança prevista na Reforma Tributária que, embora tenha como foco inicial produtos prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, acabou incluindo os automóveis novos na lista.
O movimento acendeu o alerta em toda a cadeia automotiva, desde as montadoras, que enxergam risco direto nos seus planos de investimento, até o consumidor final, que poderá enfrentar uma escalada de preços que ameaça transformar o carro zero em um privilégio restrito.
🚨 Como funciona o imposto seletivo e por que os carros entraram na mira
Idealizado para incidir sobre bens considerados supérfluos ou nocivos, como cigarros, bebidas alcoólicas e agrotóxicos, o imposto seletivo passou a englobar também automóveis, sob a justificativa de que estes impactam negativamente o meio ambiente.
Contudo, o problema não está apenas na inclusão em si, mas na ausência de um teto definido para a alíquota. De acordo com projeções da Anfavea, associação que representa as fabricantes de veículos, o novo tributo pode variar entre 10% e 35% — uma diferença que, se confirmada, pode explodir os preços dos carros 0km no país.
📉 Impacto direto: preços mais altos e vendas em queda
Para o consumidor, as consequências são imediatas. Um veículo que hoje custa R$ 120 mil, por exemplo, poderia saltar para mais de R$ 160 mil em uma aplicação de alíquota mais agressiva. O resultado seria um mercado ainda mais restrito, com consumidores empurrados para o setor de usados e uma frota nacional envelhecendo.
Esse cenário preocupa especialmente porque, com carros mais velhos nas ruas, aumentam os riscos de acidentes, emissões poluentes e problemas mecânicos. A política pública, que deveria incentivar a renovação da frota, pode acabar desestimulando exatamente esse movimento.
🏭 Indústria tenta frear avanço do imposto
Diante da ameaça iminente, a Anfavea articula um limite máximo de 5% para a alíquota, defendendo que esse patamar manteria a carga tributária em níveis semelhantes aos atuais. O argumento vai além do impacto no bolso: a associação alerta que R$ 190 bilhões em investimentos planejados por montadoras até 2030 podem ser colocados em xeque com a nova taxação.
Sem previsibilidade, empresas podem rever planos de modernização de fábricas, desenvolvimento de novos modelos e abertura de vagas no setor, o que se reflete em estagnação econômica e menos inovação tecnológica.
🔁 Efeitos em cadeia: do showroom à economia nacional
O efeito dominó de um imposto seletivo sem controle atinge vários níveis da economia:
- O consumidor perde o poder de compra;
- As montadoras recuam nos aportes financeiros;
- O comércio local desacelera com menos giro de estoque;
- A arrecadação pública pode, ironicamente, diminuir com a retração do mercado.
Além disso, o risco de judicialização por parte do setor empresarial aumenta, gerando mais instabilidade regulatória e afastando potenciais investimentos estrangeiros. A instabilidade não favorece nem o Tesouro, nem a indústria, muito menos o consumidor.
⚖️ O que está em jogo no Senado
Atualmente, o debate sobre os limites do imposto seletivo está em fase crítica no Senado Federal. O desfecho dessa discussão definirá não apenas os próximos passos da indústria automotiva, mas também a acessibilidade do carro 0km para o brasileiro médio.
O momento é decisivo. Um texto mal calibrado pode transformar o automóvel — que sempre foi símbolo de liberdade e mobilidade no Brasil — em um artigo de luxo, acessível a poucos. E, ao que tudo indica, essa decisão está mais próxima do que se imagina.