O nome da BYD, uma das principais fabricantes de carros elétricos do mundo e símbolo da transição energética no setor automotivo, entrou no centro de uma polêmica que pode abalar sua operação no Brasil. O Ministério Público do Trabalho (MPT) ingressou com uma ação civil pública contra a montadora chinesa e duas de suas prestadoras de serviços — Jinjiang Construction Brazil Ltda. e Tonghe Equipamentos Inteligentes do Brasil Co., atual Tecmonta Equipamentos Inteligentes Brasil Co. — por acusações gravíssimas de trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas.
De acordo com o MPT, a ação exige que as empresas respondam pelo pagamento de R$ 257 milhões em danos morais coletivos, além de uma série de outras penalidades que podem elevar ainda mais o montante total.
Entenda as acusações
O Ministério Público aponta que houve a submissão de trabalhadores a condições que se enquadram na definição de trabalho escravo contemporâneo, além de práticas caracterizadas como tráfico de pessoas, especificamente para atender às obras e à operação da montadora no país.
No comunicado oficial, o órgão é contundente ao afirmar que “é necessário garantir que empresas estrangeiras que se instalam no Brasil respeitem integralmente as leis nacionais de proteção ao trabalho, assegurando que não submetam trabalhadores a situações degradantes ou a tráfico de pessoas.”
O tamanho da indenização milionária
O pedido do MPT não se restringe aos danos coletivos. A ação também requer que a BYD e as empreiteiras paguem danos morais individuais, calculados em 21 vezes o salário contratual de cada trabalhador, além de um adicional de um salário por dia em que a pessoa tenha sido submetida às condições degradantes.
E não para por aí. O órgão solicita ainda uma multa de R$ 50 mil por trabalhador prejudicado para cada item descumprido. Pelas contas do próprio Ministério Público, esse valor adicional pode somar aproximadamente R$ 11 milhões.
Impacto na imagem da marca
O caso chega em um momento delicado para a BYD no Brasil. A montadora, que vem se consolidando como uma das líderes do mercado de carros elétricos e híbridos, especialmente após anunciar uma grande fábrica no estado da Bahia, vê sua imagem de inovação e sustentabilidade ser diretamente afetada por denúncias que estão muito distantes dos valores ambientais e sociais que a marca prega em sua comunicação global.
Além do impacto financeiro — que sozinho já ultrapassa a casa dos R$ 250 milhões, caso a sentença seja favorável ao MPT —, o caso pode gerar sanções reputacionais, embargos administrativos, suspensão de benefícios fiscais e até afetar futuros processos de licenciamento ou expansão da montadora no Brasil.
Aliás, o episódio acende um alerta não só para a BYD, mas para todo o setor automotivo no país, especialmente no contexto de expansão da indústria de veículos elétricos, que demanda grandes obras, mão de obra especializada e logística internacional.