O carro elétrico já deixou de ser uma promessa futurista e passou a ocupar espaço real no mercado automotivo global. No Brasil, no entanto, a eletrificação ainda patina. Mesmo diante de avanços tecnológicos, maior variedade de modelos e marketing focado em sustentabilidade, o consumidor brasileiro continua cauteloso.
Uma nova pesquisa realizada pelo Banco BV revela que apenas 7% dos brasileiros pretendem comprar um veículo 100% elétrico na próxima troca de carro — um número que mostra que a transição energética ainda encontra barreiras significativas no país.
Sustentabilidade não é prioridade para o brasileiro
Ao contrário do que muitos fabricantes esperavam, o fator ambiental não lidera a lista de prioridades do consumidor brasileiro. Segundo o levantamento, realizado com dois mil entrevistados de todas as regiões, os três critérios mais relevantes na hora de escolher um carro são conforto (42%), preço (38%) e economia de combustível (37%). Já a baixa emissão de poluentes, principal apelo dos elétricos, aparece com apenas 18% das menções.
Ou seja, embora exista um discurso crescente sobre descarbonização e futuro verde, na prática, o que pesa é o bolso — e o EV ainda não convence nesse aspecto.
O peso do bolso: preço e desvalorização assustam
Um dos pontos mais críticos na adoção dos elétricos é o preço de aquisição elevado. Mesmo com o aumento de modelos acessíveis no mercado, como o BYD Dolphin e o Renault Kwid E-Tech, os valores ainda estão muito acima dos equivalentes a combustão. Além disso, a rápida desvalorização dos EVs também preocupa. Dados do IBV Auto — indicador de veículos do próprio Banco BV — mostram que modelos elétricos lançados em 2022 acumularam queda média de 46,6% no valor até agosto de 2025.

Na prática, isso representa um risco alto de perda de capital, especialmente em um país onde o carro é, para muitos, o segundo maior investimento da vida — atrás apenas do imóvel.
Autonomia e estrutura: obstáculos técnicos ainda falam mais alto
Outro entrave apontado pelos consumidores está na autonomia limitada e na infraestrutura de recarga ainda incipiente fora dos grandes centros. Cerca de 47% dos entrevistados disseram que esperam maior autonomia nos veículos elétricos antes de considerar a compra. Em um país de dimensões continentais, a confiança em viagens mais longas com segurança energética ainda é baixa.
Embora grandes redes de carregamento rápido estejam em expansão, a sensação de dependência do carregador doméstico e os longos tempos de recarga continuam sendo vistos como desafios práticos. Para quem depende do carro no dia a dia, isso representa mais do que um detalhe — é uma questão de mobilidade viável.
Diferenças de classe: o EV como símbolo de status
O estudo também revelou diferenças claras entre as classes sociais na relação com a eletromobilidade. Nas classes A e B, o carro elétrico é visto como símbolo de inovação, modernidade e até exclusividade. Nesses grupos, o interesse é maior e muitas vezes impulsionado pela ideia de status. Já nas classes C, D e E, prevalece a busca por soluções práticas, como financiamento acessível, manutenção barata e economia no uso.
A análise mostra que, enquanto a elite urbana começa a experimentar a mobilidade elétrica, a maior parte da população ainda enfrenta dificuldades básicas para viabilizar a troca.
Curiosidade existe, mas ainda não é desejo de compra
Apesar do número reduzido de consumidores decididos a comprar um carro elétrico, a curiosidade pelo tema é crescente. Muitos brasileiros já conhecem modelos, acompanham lançamentos e sabem que os EVs estão ganhando espaço em países desenvolvidos. Entretanto, isso ainda não se converteu em intenção real de compra.
A própria indústria automotiva reconhece essa barreira. Montadoras vêm ampliando o portfólio de híbridos como etapa intermediária, apostando em opções com menor consumo de combustível e mais autonomia — uma fórmula que parece mais compatível com a realidade nacional neste momento.



