Em um Brasil que dava seus primeiros passos na era das motocicletas japonesas, a Honda ST 70 surgiu como um verdadeiro divisor de águas.
Lançada no início dos anos 1970, a pequena notável não apenas cativou jovens e entusiastas, mas também inaugurou um novo conceito de mobilidade: o de uma moto que cabia no porta-malas de carros como Opala, Corcel e Galaxie, pronta para aventuras urbanas ou trilhas improvisadas.
Design funcional e espírito aventureiro
O segredo do sucesso da ST 70 estava no equilíbrio entre praticidade e inovação. Seu visual compacto era sustentado por um chassi em formato de “T”, que além de estruturar o conjunto, integrava o tanque de combustível de maneira inteligente e discreta. Com rodas de 10 polegadas e pneus largos, a moto oferecia baixa altura do assento em relação ao solo, favorecendo a pilotagem por usuários de todas as idades e estaturas.

O desenho não era apenas charmoso: era funcional. As maçanetas e semiguidões dobráveis permitiam que a moto fosse facilmente acomodada em porta-malas de veículos médios, transformando a mobilidade sobre duas rodas em algo acessível, prático e divertido.
Versões para todos os gostos
A Honda comercializou a ST 70 em duas variantes:
- A Tipo I, com escapamento baixo, mais voltada ao uso urbano e recreativo.
- A Tipo II, equipada com escapamento elevado, para-lama dianteiro mais alto e pneus mistos, evidenciando uma proposta mais aventureira e resistente para terrenos acidentados.
A praticidade era tamanha que, na versão urbana, o garfo da suspensão dianteira podia ser removido sem necessidade de ferramentas, otimizando ainda mais o transporte da moto.
Mecânica robusta e fácil de usar
A alma da Honda ST 70 era um motor monocilíndrico 4 tempos de 72 cc, com comando de válvulas no cabeçote (OHC). Essa pequena usina gerava cerca de 6 cv de potência e 0,5 kgf.m de torque, garantindo desempenho suficiente para deslocamentos urbanos e trilhas leves. O câmbio semiautomático de três marchas era um dos destaques do modelo, inspirado em soluções já usadas nas famosas Honda C100 Dream e Biz.
Essa escolha de transmissão sem embreagem manual reforçava a proposta de uma moto acessível, fácil de pilotar e ideal para quem estava começando no mundo das duas rodas. Na parte ciclística, a ST 70 utilizava suspensão dianteira telescópica e dois amortecedores traseiros, complementados por freios a tambor e aros de aço divididos longitudinalmente — elementos que combinavam simplicidade mecânica com resistência, características essenciais para um veículo de lazer.
Um sucesso impulsionado pela liberdade
No início dos anos 70, a legislação de trânsito era mais permissiva, e a chegada da ST 70 encontrou terreno fértil entre os jovens. Aliás, era comum ver a pequena Honda sendo levada para a praia, para sítios ou até mesmo para passeios de barco, graças à sua facilidade de transporte e peso reduzido.

A sensação de liberdade que ela proporcionava fez da ST 70 mais do que uma mini-moto: tornou-se uma ferramenta para explorar o mundo, ampliando o conceito de aventura para um novo público que buscava algo além das grandes motocicletas.
Um objeto de desejo entre colecionadores
Com o passar das décadas, a Honda ST 70 ganhou status de relíquia entre os apaixonados por motocicletas clássicas. Especialmente cobiçada é a versão apelidada de “White”, caracterizada pelo assento com estampa floral que remetia ao espírito livre da época.
Hoje, encontrar uma ST 70 original e bem conservada é missão para colecionadores atentos, dispostos a pagar valores que ultrapassam R$ 50 mil. Sua importância histórica, seu design carismático e sua praticidade inigualável fazem dela um dos modelos mais icônicos e desejados da história motociclística brasileira.