Nos anos 1990, uma verdadeira corrida tecnológica tomava conta do universo das duas rodas. A busca por velocidade máxima, desempenho de ponta e domínio das pistas não era apenas uma obsessão de engenheiros: era também um símbolo de prestígio para fabricantes que desejavam se destacar em um mercado cada vez mais competitivo. E foi nesse cenário que nasceu um dos maiores ícones da história da motocicleta: a Honda CBR 1100XX Super Blackbird.
Lançada em 1996 com a missão ousada de ser a moto de produção mais rápida do mundo, a Super Blackbird — como ficou conhecida — não apenas cumpriu sua proposta como também redefiniu o conceito de desempenho nas ruas. Seu nome foi inspirado no lendário avião Lockheed SR-71 Blackbird, que atingia altitudes superiores a 24 mil metros e voava acima dos 3.500 km/h. A Honda, porém, optou por uma velocidade mais “terrestre”, mas não menos impressionante.
Aerodinâmica de míssil e estabilidade absoluta
Com visual futurista e linhas esculpidas em túnel de vento, a CBR 1100XX furava o ar com precisão cirúrgica. Era uma máquina que “voava baixo” — colada ao chão — e transmitia confiança até nas velocidades mais altas. O velocímetro ultrapassava a marca simbólica dos 300 km/h, embora a velocidade real ficasse em torno de 290 km/h. Para a época, esse número era simplesmente inédito para uma moto de série.

Além da excelente aerodinâmica, o conforto também chamava atenção. Apesar de sua proposta esportiva, a ergonomia favorecia longas distâncias, com assento generoso e posição de pilotagem equilibrada. O sucesso foi tanto entre entusiastas da performance quanto entre os apaixonados por viagens de longa distância — que viam na CBR uma verdadeira sport-touring.
Coração potente, engenharia refinada
O segredo por trás dessa performance estratosférica estava em seu motor. Um quatro cilindros em linha de 1.137 cm³, com 162 cv de potência a altos giros e 12,7 kgfm de torque, empurrava os 223 kg a seco da Super Blackbird com facilidade. A entrega de potência era suave e progressiva, mas impiedosa nas acelerações. A combinação de força e suavidade tornava a moto tão eficaz na reta quanto no contorno de curvas.

Mas a Blackbird ia além do motor. Seu chassi em alumínio com dupla trave, combinado com suspensões ajustáveis e um conjunto de freios inovador para a época — o Dual CBS (Combined Brake System) — colocava a segurança em primeiro plano, sem abrir mão da esportividade. A distribuição automática da força de frenagem entre as rodas dianteira e traseira aumentava o controle em situações extremas, algo essencial para uma motocicleta que flertava com os 300 km/h.
Atualizações ao longo dos anos e legado duradouro
Durante seus 11 anos de produção, a Honda CBR 1100XX passou por importantes evoluções. A mais marcante foi a adoção do sistema de injeção eletrônica PGM-FI, que substituiu os carburadores originais e garantiu respostas mais precisas do acelerador. O painel também foi modernizado, recebendo elementos digitais, mas sem perder o charme esportivo da versão original.

No entanto, o que realmente permaneceu inalterado ao longo do tempo foi a essência do projeto. A Blackbird nunca precisou de mudanças drásticas, porque já havia nascido à frente do seu tempo. Sua estética aerodinâmica continua atual mesmo décadas depois, o que prova o quão vanguardista era o trabalho dos engenheiros da Honda.
De rival a lenda
Quando foi lançada, a CBR 1100XX mirava diretamente em modelos como a Kawasaki ZZ-R1100, que até então reinava como a mais veloz do mundo. A resposta da Honda foi imediata, superando a concorrente em velocidade, conforto e estabilidade. Mas a supremacia durou pouco: em 1999, a Suzuki Hayabusa chegou para tomar o trono. Ainda assim, a Super Blackbird havia cumprido seu papel histórico, marcando o início de uma nova era nas superbikes de produção.
Fabricada até 2007, com cerca de 85 mil unidades produzidas, a CBR 1100XX se tornou uma cult bike, adorada por colecionadores, entusiastas e viajantes. Hoje, seu status de lenda está mais vivo do que nunca, lembrando aos apaixonados por duas rodas que houve um tempo em que a busca por velocidade era também uma busca por elegância, controle e excelência técnica.