A promessa de um novo impulso ao setor automotivo com o programa Carro Sustentável parece ter perdido força mais cedo do que se imaginava. Após um julho de alta expressiva impulsionada pela isenção do IPI para modelos 1.0, agosto apresentou uma desaceleração nas vendas de veículos leves no Brasil. Foram 214.490 unidades licenciadas, o que representa um recuo de 6,7% em relação ao mês anterior, conforme dados consolidados da indústria.
A média diária de vendas também caiu: passou de quase 10.000 unidades em julho para 10.209 em agosto, uma diferença sutil, mas que ganha peso quando se observa o menor número de dias úteis no mês (21 contra 23). Ainda assim, mesmo com o ajuste de calendário, o mercado não conseguiu manter o fôlego necessário para consolidar um crescimento sustentável.
Reação curta e fôlego limitado
O programa Carro Sustentável foi lançado com o objetivo de movimentar o setor por meio da renovação da frota com veículos menos poluentes e mais eficientes. Modelos com motorização até 1.0, como Volkswagen Polo, Fiat Argo e Renault Kwid, puxaram a reação inicial com crescimento superior a 13% em julho. Porém, o comportamento do consumidor mostrou-se sensível ao curto prazo dos benefícios.
Agosto expôs que estímulos fiscais pontuais não são suficientes para manter o mercado aquecido. A confiança do consumidor ainda está em processo de recuperação, e fatores como juros elevados e incertezas macroeconômicas continuam pesando na decisão de compra.
Balanço do ano: crescimento abaixo do esperado
De janeiro a agosto de 2025, o setor acumulou 1.576.106 veículos vendidos, uma alta de 3,17% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar de ser um desempenho positivo, fica aquém das expectativas projetadas por entidades da indústria, que esperavam um avanço de até 6% para o ano — especialmente após o forte início do segundo semestre.
Esse desempenho morno revela que o mercado ainda está em fase de reconstrução de estabilidade. A volatilidade nos números aponta que não há uma tendência consolidada, e que o setor permanece dependente de iniciativas externas para estimular a demanda.
Disputa entre montadoras e avanço das chinesas
Entre as marcas, a Fiat segue na liderança, com 21,2% de participação de mercado, mostrando força no portfólio de entrada e competitividade nas vendas diretas. A Volkswagen, com 18,3%, e a GM, com 10,2%, vêm logo atrás. Hyundai e Toyota disputam o quarto e quinto lugares, com 7,9% e 7,3%, respectivamente.
Mas o destaque vai para o avanço das marcas chinesas, que já somam 9,9% de participação, um número expressivo em um mercado historicamente fechado e dominado por marcas tradicionais. O crescimento rápido dessas fabricantes mostra que o consumidor está aberto a novas propostas, especialmente quando associadas a modelos híbridos, elétricos e com alto nível tecnológico.
Desafios à frente: estabilidade depende de medidas estruturais
O desempenho de agosto reforça que o mercado automotivo brasileiro ainda vive um momento de oscilação, apesar dos sinais de recuperação. Programas como o Carro Sustentável, embora eficientes no curto prazo, precisam ser parte de uma política industrial mais ampla, com previsibilidade e incentivos de longo prazo.
Além disso, os desafios logísticos, tributários e regulatórios seguem como obstáculos importantes. Para manter a produção ativa e garantir previsibilidade ao consumidor, é necessário que o setor caminhe em conjunto com medidas estruturais de crédito, estímulo à produção nacional e adaptação às novas tecnologias, como a eletrificação.
Enquanto isso, a retomada real depende de mais do que promoções temporárias. O mercado exige confiança, planejamento e modernização para garantir um crescimento sólido e duradouro em 2025 e nos anos seguintes.


