O mercado automotivo brasileiro é cheio de histórias de carros que marcaram época — e o Citroën C4 Pallas é um desses exemplos. Lançado com a proposta de oferecer mais sofisticação, espaço interno e equipamentos de ponta, o sedã médio da marca francesa chegou ao Brasil em 2007 para disputar terreno com pesos-pesados como Honda Civic, Toyota Corolla e Chevrolet Vectra. A promessa era ambiciosa: um carro com forte apelo visual, recheado de tecnologia e conforto acima da média.
Quase duas décadas depois, ele ainda é lembrado com entusiasmo por alguns e com certo arrependimento por outros. Neste artigo, vamos explorar o legado do C4 Pallas, destacando seus pontos fortes, fraquezas e o que esperar dele como um usado em 2025.
Um projeto ambicioso feito na América do Sul
O C4 Pallas nasceu na Argentina, derivado da mesma base do Peugeot 307, e teve como diferencial o design imponente. A traseira elevada e o enorme porta-malas de 580 litros logo chamaram a atenção dos consumidores que buscavam um sedã com aparência robusta e espírito europeu. Além disso, o nome Pallas resgatava a aura de requinte do histórico DS Pallas, um clássico francês dos anos 60 e 70.

Por dentro, o modelo surpreendia com soluções incomuns no segmento: o painel digital centralizado no topo do painel, o volante com cubo fixo e comandos giratórios, e um pacote de equipamentos que incluía ar-condicionado digital, piloto automático, sensor de chuva, faróis de neblina e computador de bordo mesmo nas versões intermediárias.
Versões, motor e câmbio: o que oferecia o C4 Pallas
Ao longo de sua trajetória, o C4 Pallas foi oferecido nas versões GLX, Exclusive e Exclusive Automático, todas com o mesmo motor: um 2.0 16V flex de quatro cilindros, capaz de entregar até 151 cv com etanol. As opções de câmbio incluíam uma transmissão manual de cinco marchas e um câmbio automático de quatro velocidades, com possibilidade de trocas sequenciais — solução comum na época, mas que logo foi superada por opções mais modernas do mercado.

Com o passar dos anos, o carro passou por leves atualizações estéticas, como faróis com máscara negra, novas rodas e lanternas de LED. Em 2013, deu lugar ao C4 Lounge, modelo mais moderno, porém menos marcante.
Espaço interno e conforto: destaques que permanecem atuais
Se há algo em que o C4 Pallas ainda dá show, é no quesito espaço e conforto. Com 2,71 metros de entre-eixos e 4,77 metros de comprimento, ele acomoda com facilidade cinco adultos, sem comprometer a bagagem. Os bancos são amplos, o isolamento acústico é eficiente e a suspensão foi calibrada para o conforto — um ponto que ainda impressiona quem dirige um modelo bem conservado.
A ergonomia e os equipamentos também merecem elogios. Mesmo com mais de uma década de uso, muitos exemplares mantêm funcionalidades como retrovisores elétricos, sensores de estacionamento e piloto automático em pleno funcionamento, reforçando o apelo de sedã sofisticado.
Segurança: à frente do seu tempo
Outro trunfo do Pallas era sua proposta de segurança. Ele contava com airbags frontais e laterais, freios ABS, controle de estabilidade, e até assistente de partida em rampa em algumas versões — algo raro no segmento na época. Sua estrutura bem projetada ajudava a transmitir segurança, inclusive em velocidades mais elevadas.
Os pontos fracos que pesam até hoje
No entanto, não é só de elogios que vive o C4 Pallas. O primeiro grande desafio está no consumo de combustível. Equipado com um motor aspirado 2.0 de bom desempenho, mas sem foco em eficiência, o modelo registrava médias urbanas em torno de 7 km/l na gasolina e apenas 5 km/l no etanol — números que, para os padrões atuais, o colocam como um dos mais gastões da categoria.

Outro ponto crítico é a manutenção. Por ser um projeto francês com componentes importados e soluções tecnológicas pouco comuns para a época, o C4 Pallas exige atenção redobrada nas revisões. Peças como sensores, componentes eletrônicos e itens de acabamento são caros e, muitas vezes, difíceis de encontrar. Vazamentos de óleo, falhas no painel digital e problemas no câmbio automático são algumas das dores de cabeça relatadas por antigos proprietários.
Por fim, a desvalorização assusta. O sedã sofre com baixo interesse do público geral, o que afeta tanto o valor de revenda quanto a liquidez no mercado de usados. Mesmo unidades bem conservadas e completas podem ser negociadas por menos de R$ 30 mil, o que, por um lado, representa uma excelente oportunidade para quem quer muito carro por pouco dinheiro — mas também exige coragem para encarar os custos de manter o modelo em dia.



