A BYD, gigante chinesa dos carros elétricos e híbridos, inaugurou oficialmente sua nova fábrica em Camaçari (BA), nesta quinta-feira (9), com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e das principais lideranças da empresa. Mais do que uma cerimônia, o evento sinaliza uma guinada estratégica do setor automotivo brasileiro rumo à eletrificação, inovação e industrialização de ponta.
A unidade baiana não é apenas uma nova planta: ela foi pensada para ser o maior polo da BYD fora da Ásia, com investimento de R$ 5,5 bilhões, capacidade inicial de 150 mil veículos por ano e possibilidade de dobrar a produção para 300 mil unidades em um segundo momento. A fábrica nasce com potencial para gerar 20 mil empregos diretos e indiretos, resgatando a importância industrial de uma região que sofreu com a saída da Ford.
Etanol, bateria e inovação: híbrido flex global nasce no Brasil
Durante a inauguração, a BYD apresentou o primeiro carro híbrido plug-in com tecnologia flex do mundo. O sistema foi desenvolvido em cooperação entre engenheiros brasileiros e chineses, projetado para operar com qualquer mistura de etanol e gasolina, além de um módulo elétrico recarregável. A inovação é exclusiva para o Brasil e posiciona o país como laboratório de soluções sustentáveis com foco local e apelo global.
A estratégia vai ao encontro da nova diretriz do Governo Federal com o programa Nova Indústria Brasil, que busca estimular tecnologias limpas, inovação e reindustrialização. O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, classificou a chegada da BYD como um “divisor de águas” na transição verde da cadeia automotiva brasileira.
Com 4,6 milhões de metros quadrados, a fábrica de Camaçari é uma das estruturas mais modernas da América Latina. A linha de produção mista permite fabricar modelos híbridos e 100% elétricos simultaneamente. A partir de 2026, a unidade terá produção nacionalizada, incluindo etapas de estamparia, soldagem e pintura, com aumento gradual no uso de componentes fabricados no país.
A certificação internacional I-REC já garante que 100% da energia utilizada no complexo vem de fontes limpas e renováveis, reforçando o compromisso da marca com a descarbonização.
Confiança no Brasil e protagonismo na América Latina
Para a BYD, o Brasil é o país-chave para liderar sua expansão na América Latina. O presidente global da empresa, Wang Chuanfu, destacou que o país reúne os principais ativos estratégicos: energia limpa, uma sociedade aberta à tecnologia e apoio governamental à transição energética. Em suas palavras, “o Brasil tem vantagens únicas e será o centro da nossa transformação verde neste continente”.
A executiva Stella Li, CEO das Américas, destacou o foco da empresa na capacitação dos brasileiros, com treinamentos realizados na China e retorno ao Brasil com o compromisso de formar novas gerações de trabalhadores especializados em mobilidade inteligente.
Desde o início das operações, mais de 350 trabalhadores já foram contratados, com previsão de chegar a 2 mil até o fim do mês. A expectativa é que o número alcance 20 mil vagas com o ecossistema completo em funcionamento, entre empregos diretos, prestadores e fornecedores.
Moradores da região já sentem o impacto. Para Danilo Alves, contratado como inspetor de qualidade, a chegada da BYD foi a realização de um sonho. “Foi o meu, dos meus filhos e da minha família”, afirmou. Já comerciantes locais como Juranildes Araújo enxergam a expansão do setor de serviços como um desdobramento natural: “A indústria puxa o comércio, melhora o turismo e amplia os empregos indiretos”.
Símbolo de recuperação e soberania
Ao lado dos executivos da marca, o presidente Lula destacou o impacto social da fábrica, chamando a iniciativa de “recuperação da dignidade do povo de Camaçari”. Segundo ele, o retorno da indústria para a região representa mais do que empregos: “É a certeza do salário, da cidadania e de um futuro com cabeça erguida”.
A fala de Lula também resgatou o momento da saída da Ford, transformando o episódio em impulso para um novo ciclo: “Lamentamos a saída, mas o que veio será melhor. A BYD aposta no Brasil como poucos e mostra que estamos prontos para liderar a nova era automotiva”.
O futuro da planta baiana já está em construção. O governo federal anunciou a criação de novos institutos federais para formar profissionais, enquanto a própria BYD inicia a expansão para produzir baterias e autopeças em território nacional. O ministro Rui Costa anunciou a duplicação do projeto, confiando na produtividade e no potencial da mão de obra local.
Segundo a própria BYD, os primeiros veículos montados na unidade já estão sendo distribuídos para a rede de concessionárias. A planta dará origem a modelos nacionais da marca, incluindo opções 100% elétricas e híbridas que devem transformar o portfólio de carros à venda no Brasil a partir de 2025.



