Entre os carros que entraram para a história da televisão brasileira, poucos marcaram tanto quanto o Chevrolet Omega CD 3.0 que desfilava pelas cenas da novela “A Viagem”, exibida em 1994.
Dirigido pelo personagem Otávio Jordão, vivido por Antônio Fagundes, o sedã não apenas reforçava a imagem de autoridade e elegância do advogado, como também sintetizava os sonhos de consumo da classe média alta da época.
A era de ouro da indústria nacional
O Omega chegou ao mercado brasileiro em 1992 como substituto do Opala, e não demorou para se consolidar como o modelo mais sofisticado da Chevrolet no país. Produzido pela General Motors em São Caetano do Sul (SP), o sedã era baseado no Opel Omega europeu, mas adaptado ao gosto e às condições das nossas ruas.

O Omega CD 3.0, especificamente, era o topo de linha à época — e o escolhido para figurar na novela da Globo. Com linhas sóbrias, porém imponentes, o carro transmitia exatamente o que o personagem Otávio representava: seriedade, poder e uma certa introspecção clássica, reforçada pela trilha sonora e pelas cenas noturnas em que o carro cruzava a cidade silenciosamente.
Design, potência e luxo em um só pacote
Em um momento em que os sedãs eram símbolos máximos de sucesso, o Omega CD 3.0 impressionava pelo acabamento refinado, tecnologia embarcada e desempenho. O motor era um seis cilindros em linha, com exatos 2.969 cm³, capaz de gerar 165 cv a 5.800 rpm e torque de 23,8 kgfm a 4.200 rpm. Com injeção eletrônica multiponto e câmbio manual de cinco marchas — ou automático de quatro como opcional — o carro alcançava velocidade máxima próxima de 215 km/h.

Além da mecânica robusta, o sedã trazia itens de série que poucos rivais ofereciam à época: ar-condicionado digital, vidros e travas elétricas, banco do motorista com regulagens elétricas, retrovisores aquecidos, freios ABS e até airbag, algo ainda raro no início da década de 1990 no Brasil. O painel iluminado, o acabamento interno com materiais nobres e o isolamento acústico faziam com que o Omega se destacasse mesmo entre os importados.
O preço do prestígio
Lançado com preço aproximado de US$ 40 mil no início da década — o equivalente a mais de R$ 100 mil em valores atualizados — o Omega CD 3.0 não era para qualquer bolso. Ainda assim, tornou-se um sucesso entre executivos, políticos e figuras da elite nacional. Ter um Omega na garagem era um verdadeiro símbolo de status, e sua presença em “A Viagem” apenas reforçava esse imaginário.

Aliás, a novela soube usar bem essa simbologia: Otávio Jordão não era um personagem qualquer. Era um homem culto, discreto e de convicções profundas. Seu carro precisava refletir isso — e refletia. O silêncio do motor seis cilindros, a elegância da pintura escura e a robustez da carroceria compunham uma aura de mistério e sofisticação que combinava perfeitamente com o universo sobrenatural da trama.
Um clássico que resiste ao tempo
Hoje, mais de 30 anos após seu lançamento, o Chevrolet Omega CD 3.0 é cultuado por colecionadores e entusiastas como um dos sedãs mais marcantes da história do mercado nacional. Embora tenha saído de linha em 1998, ainda é possível encontrar unidades bem conservadas que encantam pelas linhas atemporais e pelo conforto de rodagem — algo que poucos carros nacionais da década de 90 conseguiram entregar com tanta competência.
O modelo também representa um marco para a Chevrolet no Brasil. Foi com ele que a marca elevou o padrão de qualidade dos seus veículos e se posicionou com força no segmento premium, mesmo em um cenário de abertura às importações e entrada de novos concorrentes.



