O conceito de carros voadores pode parecer algo distante ou saído da ficção científica, mas a Embraer, por meio de sua subsidiária Eve Air Mobility, está prestes a torná-lo realidade em larga escala. O projeto mais ambicioso da empresa nos últimos anos é o eVTOL, uma aeronave 100% elétrica com capacidade de decolagem e pouso vertical, pensada para transformar a mobilidade urbana e reduzir drasticamente o tempo de deslocamentos nas grandes cidades.
E não é exagero: a promessa é que o trajeto entre a região da Faria Lima, em São Paulo, e o Aeroporto Internacional de Guarulhos, que hoje pode levar até duas horas de carro, seja realizado em apenas 13 minutos.
Um novo paradigma no transporte urbano
A proposta do eVTOL vai muito além da inovação visual. O veículo foi desenvolvido com foco em eficiência operacional, baixo impacto ambiental e facilidade de integração aos sistemas urbanos já existentes. Equipado com rotores verticais para decolagem e pouso e asas fixas para deslocamento horizontal, ele mistura o conceito de helicóptero com a eficiência aerodinâmica de um avião. Seu diferencial está na propulsão elétrica, que não apenas reduz o ruído e as emissões de carbono, mas também simplifica a manutenção e o custo operacional.

Segundo Luís Carlos Affonso, vice-presidente sênior de Engenharia e Desenvolvimento Tecnológico da Eve, o eVTOL terá alcance de até 100 km, o suficiente para conectar os principais centros urbanos, áreas periféricas e aeroportos com rapidez e precisão. Além disso, contará com tecnologia de pouso e decolagem automatizada, permitindo treinamentos de pilotos mais simples e custos operacionais reduzidos — um aspecto fundamental para viabilizar seu uso comercial em larga escala.
Produção brasileira com DNA global
A linha de produção do eVTOL será instalada em Taubaté (SP), cidade estrategicamente posicionada entre a sede da Embraer, em São José dos Campos, e os principais polos logísticos do estado. A fábrica será equipada para lidar com a demanda crescente do mercado global, já que a Eve afirma ter recebido mais de 2.800 encomendas até o momento, vindas de 28 clientes em nove países. Entre os interessados estão companhias aéreas, empresas de leasing, operadoras de helicópteros e plataformas de voos compartilhados.

Com mais de 700 engenheiros envolvidos no projeto, o desenvolvimento da aeronave tem sido acompanhado de perto por órgãos reguladores como a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o que indica um esforço coordenado para garantir segurança, certificação e escalabilidade. A expectativa é que os primeiros voos comerciais ocorram a partir de 2026, marcando o início da operação regular do veículo nos céus brasileiros e, futuramente, ao redor do mundo.
Mobilidade elétrica no ar: mais do que uma tendência
A entrada da Embraer no segmento de mobilidade aérea urbana coloca o Brasil em posição de destaque em um mercado emergente com potencial bilionário. A estimativa da empresa é de que o eVTOL possa gerar uma receita líquida de até US$ 14 bilhões nos próximos anos, impulsionando uma cadeia de valor que inclui desde o desenvolvimento tecnológico até a criação de empregos altamente qualificados no setor aeronáutico.
Mas mais do que cifras, o projeto representa uma mudança real na forma como nos movemos pelas cidades. O eVTOL foi concebido para operar em vertiportos urbanos, ocupando espaços otimizados e reduzindo a sobrecarga das vias terrestres. Sua proposta é complementar — e não substituir — os meios de transporte já existentes, funcionando como uma alternativa ágil e sustentável para deslocamentos críticos em regiões de tráfego intenso.