Muito antes da febre dos SUVs dominar o mercado e transformar o gosto do brasileiro por carros altos, robustos e urbanos, foram as peruas — ou station wagons — que sustentaram o dia a dia de famílias, empresas e até viajantes destemidos pelas estradas do país. Elas marcaram gerações, não só pelo espaço de sobra e pela versatilidade, mas por carregar histórias no porta-malas e conquistar motoristas pela resistência.
Entre os anos 70 e 90, elas eram sinônimo de carro para quem precisava de tudo: conforto, robustez, economia e espaço. Hoje, reviver a memória dessas peruas é entender uma parte essencial da identidade automotiva nacional.
Volkswagen Parati
Nasceu compacta, mas cresceu com alma de gigante. Derivada do Gol, a VW Parati chegou nos anos 80 com proposta clara: ser a perua das famílias modernas. Seu visual alinhado com a esportividade do irmão hatch e o desempenho honesto dos motores AP foram a fórmula do sucesso. Mas a Parati não se limitou ao papel familiar. Em versões como a Parati Surf, a GTI 16v e a lendária 1.8 MI, ela falava a língua dos jovens, dos surfistas, dos que queriam performance com espaço.

Era comum ver uma Parati descendo a serra carregada de pranchas ou tocando firme nas curvas de asfalto quente. Resistiu ao avanço dos SUVs até 2012, quando se despediu do mercado com dignidade. Hoje, é referência para quem busca uma perua com equilíbrio entre esportividade e praticidade.
Fiat Elba
Fruto direto do sucesso do Uno, a Fiat Elba surgiu como a extensão prática do compacto mais querido da marca italiana. Com linhas simples, mas com uma missão clara — transportar pessoas e cargas com economia e robustez, ela rapidamente ganhou espaço entre os motoristas urbanos e donos de pequenas frotas. Produzida com motores 1.3, 1.5 e 1.6, a Elba era aquela companheira discreta que fazia tudo. Carregava malas, entregava encomendas e ainda levava a família para o litoral sem reclamar.

Mesmo sem luxos, sua suspensão calibrada para o piso brasileiro e o custo de manutenção baixo tornaram-na um sucesso nos anos 80 e 90. Foi também uma das primeiras peruas compactas acessíveis do país, símbolo de uma era em que versatilidade era mais importante que status. Hoje, é lembrada com carinho por colecionadores e nostálgicos da simplicidade funcional.
Ford Belina
Herança direta do Corcel, a Belina marcou a trajetória da Ford no Brasil como uma das primeiras peruas médias de sucesso comercial. Com visual sóbrio, ela cativou o público que queria espaço interno sem abrir mão de um design limpo e harmonioso. O ápice veio nos anos 80, com a Belina II. A dianteira ganhou linhas mais retas, aproximando-se da estética europeia.

Mas o que realmente chamou a atenção foi a versão 4×4, herdando o conjunto mecânico da Pampa, tornando-se a única station nacional com tração nas quatro rodas. Nas versões GL e LDO, o acabamento mais refinado agradava quem buscava conforto acessível. E ela se tornava onipresente: estava na garagem do médico, no pátio da escola, no sítio e até nas rodovias de terra. Era o carro que entregava confiança com discrição.
Chevrolet Caravan
Baseada no Opala, a Caravan surgiu como a resposta da Chevrolet à demanda por peruas grandes, robustas e elegantes. Com motores seis cilindros de sobra e o requinte de um sedã executivo, ela era o carro das famílias que buscavam status e espaço em um só produto. Com bancos de veludo, volante largo, painel horizontalizado e um porta-malas generoso, a Caravan era símbolo de quem “chegou lá”.

Foi também o carro de empresas, médicos e diretores, marcada pela imponência e pela força nas ultrapassagens. Mesmo décadas depois, é figura cativa em encontros de antigos, muitas vezes com visual impecável, reluzente e com aquele som grave inconfundível. A Caravan não é apenas um carro do passado — é um monumento da era de ouro da GM no Brasil.
Chevrolet Omega Suprema
Quando a GM decidiu encerrar a produção da Caravan, precisava de um sucessor à altura. E foi assim que, nos anos 90, nasceu a Omega Suprema — uma perua que até hoje é vista como o ápice do refinamento nacional em sua categoria. Com visual aerodinâmico e acabamento digno de sedãs europeus, o modelo elevou o padrão das station wagons. Equipamentos como painel digital, computador de bordo, ar digital e bancos elétricos eram itens que só os modelos importados ofereciam na época.

As versões com motor 4.1 de seis cilindros ou o 2.2 a gasolina entregavam bom desempenho com conforto de sobra. Era o carro de quem queria mostrar que venceu — mas sem abrir mão da praticidade. Hoje, poucos carros nacionais ainda impressionam tanto quanto a Suprema, símbolo de um tempo em que o luxo nacional andava sobre quatro rodas — e com muito espaço.



